Alianças partidárias: discussão velha e agora decisiva

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado – 

Ela voltou novamente. Não partiu daqui tão contente, como na imortal canção na voz de Nelson Gonçalves. Não saiu contente por uns tempos por ser um ponto perene de discordâncias nas esquerdas. Sim, fala-se aqui do limite de alianças de uma candidatura do campo progressista para a eleição presidencial, e outras, em 2018.

O start para o retorno da polêmica deu-se com as famosas fotos de Luiz Inácio Lula da Silva com Renan Calheiros, aquele mesmo, no giro do petista pelo Nordeste. Para apimentar a discussão, Lula foi claro ao defender que uma candidatura de “esquerda pura” teria pouca ou nenhuma chance de recuperar o poder usurpado pelo golpe. A ultra esquerda espumou, alguns petistas engoliram em seco e a maioria, cá entre todos,  recolheu-se ao constrangimento.




É bom, antes de aprofundar os argumentos pró e contra o que Lula expôs, situar o quadro que se desenha no campo das esquerdas para 2018. Lula é um animal político raro. Sabe que é quase impossível que o deixem concorrer.

A velocidade em ritmo do Bolt dos bons tempos com que o processo chegou ao Tribunal recursal, em Porto Alegre, só reforçou o óbvio. A direita e seu apêndice, que é o Judiciário brasileiro hoje, não permitirão a candidatura do petista. Não podem simplesmente. Sabem que o ex-presidente seria praticamente imbatível com tempo de campanha na TV para diminuir a rejeição e aumentar a dianteira de hoje em todas as pesquisas eleitorais. E nem estamos falando do complicador, para a direita, da falta de um postulante com alguma inserção popular. A direita tradicional não irá de Bolsonaro, mesmo que parte de seu eleitorado vá.

O que Lula tem em mente, então? Precisa viabilizar alguma candidatura e o PT não tem, aliás ninguém tem, a chamada candidatura natural. Pelos últimos sinais, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, seria o nome a ser inicialmente trabalhado por Lula. Mesmo com os méritos de uma gestão inovadora, a verdade crua é que Haddad vem de uma derrota eleitoral recente e não é ainda um nome nacional. Como viabilizá-lo para obter um número de votos que ao menos mantenha o PT como um dos atores principais do embate político?

Olhando do ponto de vista eleitoral, é correto o desejo de Lula de ampliar alianças e acordos para 2018, sempre lembrando que aqui se trabalha com a hipótese de Lula ser impedido de concorrer. Ninguém em sã consciência pode achar que, ainda especulando com a hipótese Haddad, o ex-prefeito possa entrar no jogo grande apenas com a força declinante do PT e eventualmente de pequenos partidos das esquerdas.

O lulismo hoje é muito maior do que o petismo em termos de urna. Um péssimo desempenho do candidato a presidente puxaria para baixo a perspectiva de eleger uma bancada ao menos razoável de deputados.

Muitos petistas ou simpatizantes, porém, não aceitam a aliança com setores de centro. Renan, por exemplo, foi um dos algozes de Dilma. E é bastante razoável o argumento que a política ampla de acordos garantiu a tal governabilidade (até certo ponto) mas custou o impeachment.

Alianças com fisiológicos, sem compromisso ideológico mínimo, rebaixam as ações governamentais e são acima de tudo gelatinosas, como se viu no golpe parlamentar, quando quem era ministro na véspera participou da farsa do golpe.

Não há solução fácil, na verdade. Se já era uma dúvida eterna nas discussões do campo popular, a especificidade do quadro atual só a complica. O campo da negação principista de alianças será representado, caso o PT permaneça com a ideia de repetir acordos partidários mais amplos com o centro, por legendas como PSOL e eventualmente com o lançamento de lideranças surgidas nos últimos anos nos movimentos sociais.

O nome de Guilherme Boulos, por exemplo, não pode ser descartado. Mas a não ser na hipótese improbabilíssima, para não dizer impossível, de que o país entre numa fase insurrecional, são candidaturas condenadas ao gueto dos 5% nas urnas, se tudo correr bem.

Não se aborda aqui a hipótese Ciro Gomes (PDT). Tem gente que aposta ser a carta na manga de Lula. Não será fácil, porém. Ciro enfrentaria uma resistência  forte da máquina petista e mesmo de parte de seu eleitorado, favorável sempre a uma chapa puro sangue ou com o partido encabeçando-a. Do debate e do que resultar dele sairá não só o candidato.

Haverá uma reacomodação de campos também nas esquerdas depois da eleição presidencial. O mais significativo, por enquanto, é que Lula, concorde-se ou não com ele, foi claro. Em seu entendimento, as esquerdas do campo institucional não tem força hoje para voo solo.

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