Alma no olho, um filme, uma lição de cinema

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Por José Carlos Asbeg, jornalista e cineasta – 

Em 1974, enquanto as forças militares do general Ernesto Beckmann Geisel se dedicavam ao extermínio dos guerrilheiros do PCdoB que resistiam à ditadura na região do Araguaia, Zózimo Bulbul expunha seu corpo num libelo experimental de poderosa força metafórica para aquele período. É um dos mais belos e pioneiros filmes experimentais brasileiros – Alma no olho, curta-metragem que agora completa 40 anos.




Zózimo no filme Compasso de Espera 001Totalmente filmado em estúdio, contra um fundo infinito branco, câmera parada, com imagens extremamente dinamizadas pelos cortes rápidos, o corpo negro de Zózimo se desloca por séculos: desde a inocência da vida livre e feliz nos rincões africanos à mendicância nas grandes cidades imposta pela exclusão aos afrodescendentes brasileiros, passando pela infâmia dos porões dos navios negreiros.

Sem uma única palavra, usando apenas expressões faciais e corporais, sem quaisquer artifícios cenográficos, apenas com o apoio de música pontual de John Coltrane, Zózimo Bulbul cria num único ser, ele próprio ator ficcional e pessoa real, uma gama enorme de personagens condutores de uma história em que cada espectador é o construtor de sua própria narrativa. Auto-retrato de uma ancestralidade que resiste e quer ser feliz.

Ao mesmo tempo em que narra a saga da diáspora africana e seu triste destino escravo em nosso país, Alma no olho é o quadro fiel dos anos 1970 do Brasil da ditadura, em que o povo brasileiro era perseguido, aprisionado, torturado e assassinado. E onde os negros, como ainda hoje, eram o alvo preferencial dos facínoras paramilitares e milicianos dos temidos esquadrões da morte.

Um filme imperdível, fundamental pelo arrojo de uma linguagem experimental muito bem estruturada, que avançava os limites estéticos do Cinema Novo. Uma lição de cinema para todas as gerações. Discurso sempre atual contra a intolerância e o ódio.

O filme faz parte da exposição Zózimo Bulbul Uma Alma Carioca, de curadoria de Biza Vianna, produtora e companheira de vida de Zózimo. Está no Centro Cultural Justiça Federal, no Rio de Janeiro.

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