Por Valentim Frateschi*
Desde o final de outubro, todo o cidadão bem informado, ou seja, aquele que não se informa apenas por meios de comunicação que “puxam o saco” do governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, sabe que tal está fazendo um plano de “assassinato da educação”.
No dia 26 de outubro, Alckmin anunciou o fechamento de 94 escolas por todo o Estado de São Paulo. Ele afirma que aconteceria uma reorganização, em busca de dividir as escolas em três grupos, conforme o ciclo escolar. A estimativa é que 311 mil alunos tenham de mudar de unidade de ensino no ano que vem.
Felizmente, há alunos bem informados. Então, eles ocuparam as escolas impedindo o fechamento e mostrando que não vão abrir mão do que é nosso.
Era domingo de manhã, dia 15 de novembro, quando eu fui a uma das, até agora, 43 escolas ocupadas, a Fernão Dias Paes, no bairro de classe média e média alta Pinheiros. No horário em que eu fui não estava tendo nenhuma atividade pedagógica. Estas só iam começar no período da tarde, mas mesmo assim pude entrar para conhecer e dar uma força para quem estava lutando.
Paula (nome fantasia para evitar qualquer tipo de perseguição ou vingança), secundarista, estava lá na porta e foi ela que permitiu a entrada. Ela me mostrou toda a escola e explicou onde acontecia cada palestra, discussão ou votação que os alunos faziam e também falou do sistema de organização que adotaram. Devo dizer: estava tudo muito bem organizado, com comissão da cozinha, da limpeza, da faxina, da comunicação, etc.
Eles já sabem fazer a própria comida e organizar a própria política, diferentemente dos playboys e playgirls. Para fechar a boca dos “coxinhas”, é importante dizer que os estudantes não estão sendo manipulados por movimentos sociais ou partidos políticos, mas sim estão sendo apoiados pelos movimentos e partidos. Eles estão em comunidades democráticas onde tudo é decidido no voto. Não há superiores.
A ocupação da Fernão Dias começou na terça-feira, 10. Como na quinta-feira, 12, mais de 100 policiais militares proibiram o acesso à escola, alunos que ficaram de fora, acamparam na rua em frente ao colégio. Na escola Antônio Manoel Alves de Lima, na periferia da Zona Sul de São Paulo, a PM rompeu a liminar que barrava a entrada de qualquer um que não fosse aluno. Os policiais alegavam ter uma autorização para entrar, pois a diretora estava passando mal.
É inacreditável ver como o governo de São Paulo e a polícia se sentem acima de tudo, sem o menor nível de humanidade e sem a menor noção de como viver em sociedade. Eles não sabem tirar o olho do umbigo. Eles alegam fazer o que fazem pela educação, humanização e pacificação, mas não têm a humanidade na hora de permitir que a sociedade lute pela educação e pelos seus direitos.
Ainda bem que há resistência, como afirma Sophia Tagliaferri de Castro, estudante secundarista na Etesp – Escola Técnica Estadual de São Paulo: “Ocupar até entrar nos livros de história é ocupar todas as escolas do Brasil”.
*Aos 12 anos, Valentim Frateschi já sabe muito bem a importância da Educação e sabe quando os direitos do cidadão são usurpados.