Por Arnaldo César , no Blog do Auler –
Michel Temer, Rodrigo Maia e Renan Calheiros decidiram montar uma pantomima, neste último domingo (dia 27), no Palácio do Planalto. Convocaram a imprensa para anunciar o que chamaram de “ajustamento institucional” entre os poderes Executivo e Legislativo contra um movimento que tomou conta da Câmara Federal para a aprovação de um projeto de anistia do Caixa 2 e toda a sorte de maracutaias praticadas por políticos e governantes.
Temer e seus acólitos imaginavam que Calero iria expor à Nação o conteúdo de conversas que teria gravado com o presidente da República e o ministro chefe do Gabinete Civil, Eliseu Padilha.
Nenhuma fita foi divulgada. Espertamente, o auxiliar demitido apenas despejou mais dúvidas no ar. Confirmou que fez algumas interceptações telefônicas. Mas, para não atrapalhar as investigações conduzidas pela Polícia Federal foi aconselhado por amigos a não dar publicidade aos diálogos com Temer e Padilha. Ou seja, jogou mais lenha nessa escaldante fornalha.
Um braseiro que promete derreter os termômetros nos próximos dias. A malfadada entrevista foi articulada para dar fim à crise gerada pela briga de Calero com o seu colega Geddel Vieira Lima, na semana passada. O ministro da Secretaria de Governo pressionou o titular da Cultura para resolver junto ao IPHAN, um “probleminha” particular dele com as obras de um espigão de luxo que seria construído em área de preservação histórica em Salvador.
Para manter a suntuosa obra na Ladeira da Barra, Geddel não titubeou em transformar em seus cúmplices nessa tramoia o próprio presidente da República e o seu colega do Gabinete Civil
Ocorre que na noite de sexta-feira (dia 25) o tempo fechou no Palácio do Planalto. Amuado, Temer foi para sua casa em São Paulo “recuperar as energias”. Só regressaria a Brasília, na segunda-feira (dia 28).
A raposa com corpo de gato angorá, o ex-governador do Rio Moreira Franco foi um dos primeiro a sentir o cheiro de pólvora no ar. Logo no sábado de manhã, pegou um avião da FAB e se mandou para São Paulo. Antes do almoço, bateu na porta da casa do chefe com notícias inquietadoras. Levou a informação de que Calero havia decidido chutar o pau da barraca e iria tacar fogo na República com as tais gravações de suas conversas palacianas. Precisavam, por tanto, agir com rapidez para atenuar o impacto das fitas, caso viessem a ser divulgadas.
Não só eles. A grande mídia também chegou a dar ares de seriedade às teses ardilosas que passaram a transitar do corredor da Casa.
É bom não esquecer que uma anistia a toda sorte de trampolinagens interessa – e muito – aos três senhores que ocuparam a bancada instalada no Palácio do Planalto para a desastrada entrevista. Eles, a exemplo dos 350 corruptos que militam no Congresso Nacional, também estão encalacrados, até às raízes de seus ralos cabelos, com denúncias de corrupção, propinagem, enriquecimento ilícito, tráfico de influência, advocacia administrativa e quetais.
Sendo que, no caso de Temer, o presidente golpista, circula em todas as redes sociais cópia de um cheque, do Banco do Brasil, de R$ 1 milhão doado pelo ex-presidente da construtora Andrade Gutierrez, Marques Azevedo a um certo “Sr. Michel Miguel Elias Lulia” (veja reprodução).
Rodrigo Maia tem o seu nome incluído tanto nas rapinagens da “Lava Jato” quanto na de Furnas. Sobre Renan Calheiros é bom nem comentar. Seus 12 inquéritos no STF falam por si só.
Encontrar uma tábua de salvação que os afastem das garras do juiz Moro e sua força tarefa é o querem na vida. Por isso não moveram uma palha sequer para abortar o monstro no nascedouro. Afinal, o que estava acontecendo no plenário do Congresso, nada mais era do que um novo capítulo do roteiro pré-estabelecido que resultou no golpe contra a presidente Dilma Rousseff.
Moreira bateu na porta da residência paulistana do seu chefe com notícias inquietadoras. Marcelo Calero, o ex-ministro da Cultura que detonou Geddel, havia dado mais uma entrevista bombástica. Desta vez, para um dos programas de maior audiência aos domingos da TV Globo, o “Fantástico”. Calero revelaria aos espectadores globais o conteúdo da gravação das conversas que teve com Temer, na semana passada, antes de pedir o boné.
Se o mercado e a opinião pública vão se deixar engambelar pela encenação mal enjambrada de domingo passado, só o tempo dirá. O melhor termômetro serão as manifestações do próximo dia 4 de Dezembro.
A verdade é que ao pularem fora da canoa furada da Anistia ao Caixa 2, Temer, Maia e Calheiros acabaram traindo seus pares da base aliada do governo. Os 27 líderes de partidos que assinaram um manifesto em favor das porcarias praticadas pelo “Suíno” (apelido pelo qual Geddel era conhecido nos bancos escolares em Brasília) não estão nem um pouco satisfeitos com o conteúdo da entrevista de domingo.
Botaram suas assinaturas naquela folha de papel por sugestão de Temer e Padilha. De nada adiantou aquelas declarações de fé na honestidade e na competência do “Suíno”. Ele foi catapultado do Planalto juntamente com Calero.
Parafraseando o próprio Geddel: E, agora como é que fica essa multidão de mais de 350 deputados e senadores encalacrados com a Justiça? Essa marota Anistia do Caixa 2 era a melhor maneira para passarem uma borracha em suas biografias. Só assim poderiam voltar a ser “homens de bem” (se é que foram nalgum dia!).
Percebe-se que a monolítica maioria que Temer sempre se jactou de manter no Congresso começou a sofrer erosões. A grande armação que redundou no golpe contra a presidente legalmente eleita, Dilma Rousseff esfarela. A delação premiada da Norberto Odebrecht, sem a maldita da Anistia do Caixa 2, tem tudo para abalar os alicerces da República.
Tudo leva a crer que os três aflitos senhores da entrevista possam vir a ser alcançados por tão esperada deleção. Assim sendo, é bom nos prepararmos para um novo presidente da República logo em 2017.
No meio dessa confusão toda, apenas uma singela indagação: O que tem a nos dizer o presidenciável tucano, Aécio Neves, que hipotecou solidariedade ao “Suíno” Geddel e defendeu abertamente a anistia ao Caixa 2?