Por Anamaria Leme, cantora
E novamente encho meu coração de esperança e cansaço.
Sinto falta, mais que tudo, de abraçar os que amo, de estar perto de amigas que perderam queridos, das que me fazem rir e me saber querida, dos amigos meus que se foram ou dos que passaram perrengues feios, e não pude estar ali, segurando a mão deles.
Acho que amadureci 30 anos em um. Cresci dentro prá fora, adensei minhas forças, minha potência, ampliei meus limites, minhas coragens.
Aprendi a cuidar das minhas crises de pânico sozinha. Me curei de muita coisa. Fiz yoga, eutonia, terapia, caminhadas, estudei, comi orgânicos e diminuí a quase zero a bebida.
Um vinho do porto bem de vez em quando prá abrir o apetite (apetite este que cresceu absurdamente).
Que benção ter casa, comida, privacidade, segurança. Que horror passam os que não tem.
Tenho ajudado quem eu posso. Há muita gente trabalhando neste sentido, é uma obrigação nos engajar, encontrar como podemos ajudar.
Mundo injusto, assustador. Pesadelo que não acaba, só contorce e espreme as tripas da gente.
A maior resistência é sobreviver.
Depois, juntar os caquinhos, ver o que sobrou e ver o que escolheremos para a humanidade: o fim dessa praga que são os humanos arrogantes, ou voltarmos a ser uma espécie que ocuparia na escala trófica um lugar entre porcos e anchovas peruanas, deixando o topo para quem é de direito, ursos, orcas.
Baixar a crina, é isso que a humanidade precisa. E de vacina e ciência.
E as duas coisas podem acontecer concomitantemente quando começarmos a respeitar a vida para além do discurso.
Amanhecer mais um dia.
Força e fé, malucada, avante!
Foto: Anamaria Leme