Bioma em chamas: 10 pontos para entender a situação na região da maior floresta tropical do mundo com a crise climática
Por Oscar Valporto, compartilhado de Projeto Colabora
na foto: Floresta em chamas no Sul do Amazonas: temporada de queimadas, seca extrema e fumaça (Foto: Marizilda Cruppe / Greenpeace – 01/08/2024)
O Brasil chega a este Dia da Amazônia (05/09) com muito pouco a comemorar Só em agosto, foram registrados nas florestas do bioma 38.266 focos de incêndios, número muito superior à média histórica para o mês – um aumento de 145% em relação ao ano passado, de acordo com o Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). As queimadas seguem acontecendo nesses primeiros dias de setembro, com a fumaça encobrindo toda a região e se espalhando pelo resto do país. A propagação dos incêndios vem sendo facilitada pela seca extrema na Amazônia, provocada pela crise climática, pelo segundo ano consecutivo – em algumas partes de Pará, Amazonas, Acre e Rondônia, é a pior seca já registrada.
No Dia da Amazônia, destacamos 10 pontos para entender este cenário atual de queimadas, seca extrema e fumaça.
1. O período entre agosto e novembro concentrou 75% de toda a área queimada na Amazônia de 1985 a 2022. É o chamado verão amazônico, caracterizado pelas altas temperaturas e chuvas abaixo da média. Em 2023, a Amazônia enfrentou sua pior seca em 125 anos. o que levou à escassez de de alimentos e água potável para as famílias ribeirinhas, inclusive aldeias indígenas, e à mortandade em massa de espécies aquáticas.
2. Em 2024, a estiagem extrema se repete e os rios da Amazônia começaram, inclusive, a secar mais cedo. No primeiro semestre, choveu menos que o esperado em toda a região. De acordo com dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais), regiões da Amazônia enfrentam nos últimos três meses a pior seca desde o começo da série histórica, em 1950: a metade mais ao norte do Acre, grande parte de Rondônia, a maior parte da Amazônia Matogrossense, parte do oeste do Amazonas e o extremo sul do Pará. A estiagem, com menor intensidade, também atinge Roraima.
3. Os cientistas apontam algumas causas específicas para a seca extrema na Amazônia: o Oceano Atlântico Tropical Norte está mais quente do que o normal, devido a crise climática, o que tem contribuído para as mudanças nos padrões de chuva pelo país, prolongando a seca iniciada em 2023; e o fenômeno El Niño, que aquece o Oceano Pacífico, intensifica a estiagem na Região Norte e contribui para a elevação das temperaturas no país.
4. Com a seca, o número de queimadas disparou: comparando o período de janeiro e agosto, 2024 foi o período com o maior número de focos de incêndios – 63.189 – acumulados na Amazônia desde 2005. Só em agosto foram identificados 38.266 focos na Amazônia, 120% a mais que em agosto do ano passado. No ano de 2024, e também em agosto, os estados com maior número de queimadas foram , pela ordem, Mato Grosso, Pará e Amazonas. E este aumento das queimadas aconteceu após meses de queda no desmatamento – geralmente, o fogo se alastra mais quando maior o desmate.
5. Apesar da seca extrema facilitar o avanço dos incêndios, pesquisadores e ambientalistas destacam que as queimadas na Amazônia são quase sempre causadas pelo ser humano: na maioria, são grileiros, fazendeiro e garimpeiros usam o fogo para limpar a terra da vegetação depois que grandes árvores foram derrubadas ou para enfraquecer a floresta.
6. Os cientistas alertam para dados das queimadas em alguns pontos da Amazônia: no Mato Grosso, que concentrou 20,4% do número de focos de incêndio do país entre 1º de janeiro e 31 de agosto, há uma grande área de floresta de transição e as queimadas favorecem o processo de avanço da fronteira agrícola rumo ao norte; no Amazonas, o fogo ocorre no Sul do estado e nos arredores da rodovia Transamazônica (BR-230); em Rondônia e no Acre, outras estados onde a agropecuária tem avançado sobre a floresta, os números de queimadas em agosto também foram os maiores desde 2005.
7. Com as queimadas, capitais da Região Norte – como Manaus, Porto Velho e Rio Branco, e até mesmo Boa Vista, em Roraima, estado onde um número de focos de incêndio é bem menor – têm ficado coberto pela fumaça, com os hospitais lotados de pacientes com problemas respiratórios.
8. Com a multiplicação dos focos de incêndio, os chamados rios voadores, que levam a umidade da Floresta Amazônica para outras regiões do continente, viraram um imenso corredor de fumaça, que pode ser visto até do espaço. Além de cobrir grande parte da Região Norte, a fumaça das queimadas da Amazônia chegou a cidades de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, do oeste do Paraná, e de partes de Minas Gerais e São Paulo.
9. Com o agravamento da seca e das queimadas em agosto, governos estaduais decretaram situação de emergência; o Pará decretou emergência ambiental e proibiu as queimadas em todo o estado; Rondônia também decretou situação de emergência “motivada pelos intensos incêndios florestais e pela baixa umidade relativa do ar”; o Amazonas baixou decreto para declarar situação de emergência em saúde pública em razão do período de vazante dos rios; o Acre decretou emergência em saúde pública por causa do fortalecimento da seca, do volume crescente de incêndios em áreas rurais e urbanas e a ‘vulnerabilidade da população ao consumo de água imprópria’; e Mato Grosso decretou emergência por 180 dias.
10. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, estão atuando na Amazônia um número recorde de brigadistas para combater as queimadas:são 1.468 brigadistas do Ibama e do ICMBio, que estão trabalhando em conjunto com as corporações estaduais dos bombeiros e têm o apoio logístico – principalmente helicópteros e barcos – das Forças Armadas.