A jornalista Maria Lígia Pagenotto fez este belo relato abaixo. Nós, que vivemos de pescar coisas belas nas poluídas águas do Facebook, não perdemos tempo e nos lembramos da música “Amigo e pra essas coisas’, de Aldir blanc e Silvio da Silva Jr.
Então, segurem o belo texto e a música, aqui com o Ruy Faria e Chico Buarque.
Despedida de dois homens no metrô quase vazio, noite gelada:
– Vou nessa, tchau, diz um deles.
– Tchau – responde o outro, e rapidamente cata o braço do amigo, meio que impedindo-o de descer.
– Tenho que ir.
– Tá… mas só quero dizer obrigado por todas as vezes que você atendeu minhas ligações de madrugada, eu sempre meio alcoolizado, você sempre me ouviu, sempre me atendeu.
– Ah, não diz isso não, não quero chorar.
E se abraçam rapidamente, com carinho. O que fica no metrô enxuga o rosto, choroso. O que saiu também passa a mão nos olhos.
Eu disfarço e enxugo os meus também.
Detesto despedidas. E achei lindo o rapaz “meio alcoolizado” ser ouvido sempre, linda essa confiança; e que bonito ele ligar, o outro atender, como disse, não mandar mensagem, essa coisa de só mensagem, que chata que é; deu saudade do tempo do telefone mesmo.
(mas tudo tem sempre um contraponto, claro, hahaha: um amigo mal-humorado pra quem contei isso disse: “que mala esse cara, liga na madrugada, e meio bêbado, só você pra achar isso lindo”. Pois é, pode ser uma malice tbm mesmo. Mas só vi beleza ali, me comovi pra valer).