Hoje, foi um dos dias mais bem-dispostos que já tive. Saí de casa com vontade de ser feliz. De abraçar o mundo. Dar flores ao delegado. Passei por uma banca de jornal e vi O Sol. Ele voltou. E me veio aquele misto de alegria e preguiça. Comprei O Sol por três reais. Uma pechincha. Mas ainda não li. Se sob o sol dos anos 60 já ninguém lia tanta notícia, imagina agora.
Com O Sol na bolsa, presencio a treva. A polícia trata um ambulante que rouba no varejo de uma forma que nunca trata quem rouba no atacado. Mais à frente, um adolescente. Um belo moreno de seus 16 anos. Maltratado pela vida, não quis me maltratar. Me pediu que eu lhe comprasse um pacote de balas (de mascar!) pra ele vender. Fui com ele até a loja de balas e os olhos dele brilhavam me agradecendo pelo simples fato de eu lhe dar atenção. Quando eu estava lhe dando o dinheiro pra ajudar nas balas, um segurança privado com coração cravado de ódio me diz, com as mãos na cintura e olhar ameaçador: “A senhora vai alimentar o vício dele?”. Respiro fundo e digo: “Sou adulta, pago meus impostos, sei o que faço”. O Segurança vai para um canto. Dou um tapinha no jovem e digo: “Sucesso na vida, amigo”. Vou embora com a certeza, a absoluta certeza, que o amor transforma facas e afagos.