Angela Davis em São Paulo

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Por  Josmar Tadeu Inácio e Maria Lúcia Zanelli e fotos de Josmar Tadeu Inácio, publicado em Sintonias SP

Nem o frio desta segunda-feira espantou a plateia de quase 15 mil pessoas do Auditório Ibirapuera que esperava ansiosamente a ativista e filósofa norte-americana Angela Davis. Ela que esteve em São Paulo para o lançamento da sua autobiografia, falou sobre o movimento negro e as diversas fases da justiça.

Apesar de já ter vindo ao Brasil oito vezes, esta é a primeira que Angela Davis vem a São Paulo. No último sábado (19), a ativista participou do seminário “Democracia em Colapso”, organizado pela editora Boitempo e o Sesc-SP. Em seu discurso, Davis falou sobre a liberdade de Preta Ferreira, “uma vitória que devemos comemorar”. Defendeu o legado de Marielle Franco e, de punhos cerrados, pediu a liberdade do ex-presidente Lula.

Sob o título “A Liberdade é uma Luta Constante”, Angela Davis discursou por cerca de uma hora sobre democracia, racismo, encarceramento, feminismo e socialismo. Depois, passou mais uma hora respondendo a questões da plateia. Quando perguntada pelo embaixador de Cuba sobre os embargos dos EUA ao país, Angela destacou a capacidade de resistência da ilha e exaltou a Revolução Cubana. No domingo (20), ela visitou a Escola Nacional Florestan Fernandes, espaço de formação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), localizada em Guararema (SP). Na ENFF, Davis participou de um encontro com organizações do Movimento Negro brasileiro, camponeses do Movimento Sem Terra e militantes do Levante Popular da Juventude. O encerramento de suas atividades em São Paulo foi com uma grande palestra ao ar livre no Parque Ibirapuera, que contou com cerca de 15 mil pessoas.




Selecionamos alguns trechos importantes da fala da ativista:

A vida negra importa! – “Não vamos desperdiçar tempo. Vamos falar o que realmente importa em ambos os países. Eu tenho falado sobre a Justiça, a Justiça do meio ambiente, sobre a Justiça da vida humana e no centro da luta em prol, estão as vidas negras. A vida negra importa! Nós tentamos levantar esta questão, quando uma pessoa negra é assassinada por um policial. Nós, por exemplo, tivemos um caso emblemático há algumas semanas. Tatiana Jefferson foi assassinada dentro de sua própria casa. Ela estava jogando videogame com seu sobrinho quando foi morta por um policial branco. Ele atirou na mulher através da janela da casa de Tatiana. Eu não preciso explicar para vocês, aqui do Brasil, sobre a violência policial racista.

Vocês sabem aqui no Brasil, mais do que nós, nos Estados Unidos, como a violência policial pode devastar nossas comunidades… O nome da criança brasileira, Agatha Sales Peres, de oito anos, que foi assassinada na comunidade do Rio de Janeiro deveria reverberar pelo mundo afora! Por que uma criança linda, negra, deveria ser vítima de uma política de atirar primeiro, antes de perguntar?

Encarceramento – A guerra contra as drogas tem aumentado o número de encarcerados no Brasil e isso tem sido estendido também no Brasil. Nós, nos Estados Unidos, não queremos a reforma do sistema carcerário. Nós queremos que o sistema carcerário seja extinto, abolido! Vamos nos conscientizar sobre o racismo. Se algumas pessoas podem acusadas de ser traficantes de drogas,todas as pesssoas negras podem ser consideradas suspeitas se moram em determinados bairros ou comunidades. Isto está no cerne do racismo. Hoje, há uma via de mão única dos Estados Unidos para o Brasil. Mas, eu acredito que é minha responsabilidade de figuras marcantes do ativismo brasileiro seja levado para os Estados Unidos.

Feminismo negro vivo – Eu tive a oportunidade de me encontrar com representantes de mulheres negras, de comunidade LGBT. Eu não conseguiria expressar para vocês a energia criativa, genialidade neste encontro. Preta Ferreira falou sobre a sua luta pela moradia no Brasil. Elas estão apoiando populações a quem não foi garantido um lugar para descansar suas cabeças. O Estado está tentando criminalizar os movimentos sociais… Eu estou feliz em celebrar com vocês a liberdade de Preta Ferreira. Vocês deveriam se mobilizar durante o seu julgamento… Libertem todas as Pretas! Quando todas as mulheres negras se erguem, todas as pessoas se erguem! O capitalismo racial é como pode ser demonstrado pela História das Américas.

Marielle Franco em Paris e Lisboa – Existem duas ruas, uma em Paris e outra em Lisboa, que passaram a ter o nome de Marielle Franco. Na Palestina, alguma rua passará a ter o nome de Marielle Franco.

Resistência popular – Continuaremos a conectar nossas ações para encerrar as atividades militares que ocorrem na favelas do Rio de Janeiro e em Palestina. O governo norte-americano retirou as tropas da Síria, afetando o povo curdo e outras comunidades. A liberdade das mulheres curdas está inserida na luta pela liberdade do povo curdo.

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