Antonio Adolfo reinventa a música de Cole Porter em disco tributo ao compositor morto há 60 anos

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“Comecei por experimentar melodias diferentes de Cole Porter no piano, usando diferentes estilos de música brasileira. Custou um pouco para trazê-las para o meu mundo de ideias musicais”, Antonio Adolfo contando os passos iniciais para chegar ao seu mais recente álbum Love Cole Porter (em entrevista à Jazz Music Archives). Um tributo ao compositor americano falecido há 60 anos, do qual Adolfo interpreta dez temas, com alguns dos maiores craques do instrumental brasileiro.

Compartilhado de Teles Toques




Quando se fala na influência do jazz na bossa nova geralmente é do estilo da Costa-Oeste (Gerry Mulligan, Stan Kenton, Dave Brubeck, entre vários outros), uma variação do cool jazz, que enfatizava arranjos e melodias, economizando nos improvisos. Porém, pouco se fala nos compositores que enriqueceram The Great American Songbook. O refinamento melódico, harmônico, poético das canções de nomes como Hoagy Carmichael, dos irmãos Gershwin, Irving Berlin, Johnny Mercer e, claro, Cole Porter marcaram os autores da bossa nova.

Desses, talvez, o mais presente seja Cole Porter, pela leveza das melodias e das letras, fazia com o que complexo parecesse fácil, como acontecia com Tom Jobim. Aqui Antonio Adolfo acrescenta mais complexidade às composições de Porter, dando-lhes roupagens de ritmos brasileiros com jazz. Caetano Veloso até fez isto em algumas faixas do álbum A Foreign Sound, notadamente em Carioca (Edward Eliscu/Gus Kahn/Vincent Youmans) que ganhou uma levada de samba reggae.

Em Love Cole Porter, Antonio Adolfo, leva a música do compositor para o nordeste, quando I’ve Got You Under My Skin, uma das mais célebres canções de Porter, recebe em um trecho o andamento de toada, mais à frente também de sambalanço. Impressiona o dinamismo em cada faixa do álbum. Em Easy to Love volta-se aos tempos dos combos de samba jazz da primeira metade dos anos 60. Em Just One of These Things o grupo cai no frevo jazz, com um belo solo de Lula Galvão na guitarra.

Incompatíveis o ijexá com Cole Porter? Totalmente, menos neste disco, em que Love for Sale vai ao Pelourinho em Salvador e ganha a malemolência do ijexá. Nem é irreverência, nem transgressão, pela sutileza do arranjo e habilidade dos instrumentistas.  Em cada faixa é aberta uma janela para o improviso de um ou mais deles. Antonio Adolfo reuniu um dream team para tocar com ele em Love Cole Porter: Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Danilo Sinna (sax alto), Marcelo Martins (sax tenor e soprano e flauta), Rafael Rocha (trombone), Lula Galvão (guitarra), Jorge Helder (baixo), Rafael Barata (bateria e percussão) e Dadá Costa (percussão).

Ousadia mesmo acontece em Night and Day, a mais famosa, e mais regravada das canções de Cole Porter. Nela, Antonio Adolfo reprocessa a estrutura da música, com improvisos de contrabaixo de Jorge Hélder e do incrível baterista Rafael Barata. You Do Something to Me, fecha o repertório carnavalizando este álbum impecável: “Terminamos a melodia com alguns elementos de carnaval na coda (final de uma música). Se diz que no Brasil tudo acaba em carnaval. E talvez isto seja verdade”, diz Antonio Adolfo (na citada entrevista ao Jazz Music Archives).

ORIGINAIS

Reforçando o a resenha do disco, um toque sobre as gravações originais de cada uma das composições de Cole Porter, quando foi lançada e quem a gravou primeiro. 

Easy to Love – Lançado em 1936, por Frances Langford com a orquestra de Jimmy Dorsey

Ev’ry Time We Say Goodbye – de 1944, primeira gravação de Nan Wynn.

 Concentrate on You – 1939, Les Brown e Orquestra, com a crooner Shirley Howard

I Love You – 1944, Jo Stafford  com a orquestra de Paul Weston

I’ve Got You Under My Skin – 1936, Frances Langford com a orquestra de Jimmy Dorsey

Just One of Those Things – 1935, Richard Himber e a Ritz/Carlton Orchestra, com Stuart Allen de crooner

Love for Sale – 1930, Waring’s Pennsylvanians e as Three Waring Girls

Night and Day – 1932, Fred Astaire com a orquestra de Leo Reisman

So in Love – 1948, Tommy Dorsey e orquestra, com o crooner Denny Dennis

You do Something to Me – 1929, gravada por Cliqcot Club Eskimos, do banjoísta Harry Reser.

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