Por Tatiana Melim, publicado no Portal da CUT –
“A prisão de Lula foi a continuidade do golpe de 2016. E a luta por Lula livre é a luta de quem acredita na liberdade, na democracia e na educação como emancipação do ser humano”
Apaixonada pela liberdade, pela busca constante da emancipação do ser humano e pela esperança de que as coisas um dia possam melhorar, Therezinha dedica boa parte da rotina diária na participação das atividades do Coletivo Lindalva das Graças, criado em 2016, em Belo Horizonte, Minas Gerais, para lutar contra o golpe de Estado que tirou do governo uma presidenta eleita legitimamente por mais de 54 milhões de votos, Dilma Rousseff.
O movimento que, a princípio, pretendia somar forças à mobilização nacional para barrar o impeachment de Dilma se transformou no coletivo que luta atualmente pela liberdade de Lula, preso político há mais de um ano na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.
“Quando a perseguição foi intensificando cada vez mais, tudo foi ficando mais claro, e a gente viu que a questão do Lula era apenas a continuidade de tudo aquilo [o golpe], então passamos a lutar em defesa da liberdade de Lula”, conta Therezinha.
“Contra Lula não tem prova, qual a prova?”, questiona. “Eu li tudo a respeito, cheguei até mesmo a comprar o livro ‘Comentários a Uma Sentença Anunciada. O Processo Lula’, li tudo o que pude e ainda comparo com as falas dos atuais [governantes] que estão aí. E a gente percebe a diferença na fala de ódio, de destruição, de desconstrução do Brasil”.
Therezinha acredita que o processo contra o ex-presidente mais bem avaliado da história do Brasil não trata apenas de uma perseguição a um homem, um cidadão, mas de um golpe contra a democracia brasileira, contra a soberania do País, contra os direitos sociais, trabalhistas e previdenciários de um povo trabalhador.
Se o Lula não é um símbolo de resistência a tudo isso, eu não sei o que é
“Nós estamos acompanhando o processo desde o início e as provas que aparecem não são contrárias a Lula, são contrárias a quem não é a favor da democracia”.
O Coletivo Lindalva das Graças
O atual Coletivo Lindalva das Graças, onde Therezinha dedica a sua militância, nem sempre teve este nome. No início, como sugestão da Frente Brasil Popular, foi criado um comitê contra o golpe e o nome da militante Maria das Graças foi escolhido pelo grupo que então começava a se formar.
“Depois disso”, conta Therezinha, “as coisas foram evoluindo, o golpe foi avançando e, em uma das caravanas ao Rio de Janeiro, no Festival Lula Livre, que contou com a presença de Chico Buarque, Gilberto Gil, a falecida Beth Carvalho e outros artistas, a Lindalva, grande amiga, líder e militante, teve uma parada cardíaca e faleceu no ônibus, enquanto voltávamos a Belo Horizonte”.
Foi então que o coletivo ganhou o nome de Lindalva. Lindalva das Graças, uma fusão entre o nome das duas militantes queridas pelos membros do coletivo. “Decidimos homenagear as duas, elas merecem e inspiram a nossa luta”, resume Therezinha.
– Confira o vídeo feito em homenagem a Lindalva:
Atualmente, o Coletivo Lindalva das Graças se reúne para ler, escrever, estudar, organizar a participação nas atividades e manifestações, e até mesmo ajudar outros grupos que também estão na luta por Lula livre, pela democracia, pela liberdade.
A última atividade organizada que teve a participação ativa do coletivo foi na semana do dia 7 de abril, no Festival Lula Livre, realizado na ocupação Pátria Livre, no bairro Pedreira, na periferia de Belo Horizonte.
“Foi um ato que saiu do centro da cidade e levou o debate sobre a prisão injusta de Lula para outros pontos de Belo Horizonte, o que é muito importante”, diz Therezinha.
“O ato começou com o que chamo de canto de mil vozes, na Praça Afonso Arinos, num domingo de feira. Ali se conseguiu um coral com mais de mil vozes cantando ‘Lula lá’ e pedindo por Lula livre”, lembra.
E nos dias que seguiram as ações não pararam. Panfletagens, diálogo com a população, atividades culturais, como cortejo nas favelas com entrega de flores, grafites, ciranda, cantos, toda ação é válida e faz parte da luta diária em defesa de Lula livre, conta a militante Therezinha, que não se cansa de lutar.
E a próxima agenda do coletivo será no dia 30 de maio, Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Educação e contra a reforma da Previdência.
“A educação é a militância da minha vida”, afirma Therezinha, que também defende o direito de o povo conseguir se aposentar.
Educação para a liberdade
“Eu gosto de falar que eu era uma profissional da pedagogia, mas eu entendo essa pedagogia como educação. Eu não gosto de falar que eu sou uma educadora, porque é muita pretensão eu falar que sou educadora. Então prefiro dizer que eu trabalhava com educação”.
É assim que a militante de 81 anos define a sua trajetória profissional. Uma trajetória que se confunde com a sua história de vida. Therezinha acredita que a educação é o caminho para a descoberta da liberdade e, por isso, não se cansa da luta em defesa da educação e das liberdades democráticas.
“A minha visão de mundo é uma visão libertadora, emancipadora, e ela depende de cada um, daquilo que vem de dentro para fora. O que vem de fora para dentro, com imposições, eu não acredito muito”, diz.
“Não acredito na hipocrisia de distorcer palavras para se dizer alguma coisa, como a escola sem partido, que não significa escola sem partido como querem vender, mas significa a escola do partido deles, que querem retirar a possibilidade da criança, dos jovens e das pessoas pensarem”, desabafa, se referindo ao atual governo de Jair Bolsonaro (PSL), que, segundo ela, diz uma coisa em um dia e desmente no outro porque não trabalha com a verdade.
“Eu digo que é uma escola dos partidos que querem manipular, massificar e tirar a consciência de cada um. As pessoas sem consciência, sem liberdades, elas não se descobrem, não crescem, não se educam, não entendem o que está acontecendo ao seu redor”.
A militância e o futuro
Apesar de continuar na luta e acreditar na educação como o caminho para o futuro, Therezinha vê com certo desânimo o atual momento político devido à destruição “que estão fazendo com o país e usando falsos motivos para isso”.
“Digo falsos porque eles são distorcidos, a exemplo da corrupção. São argumentos distorcidos que colocam contra o Lula. Não vejo quem rouba mais, se é o sistema bancário, se foi o Temer com a turma dele, se foi o Aécio aqui em Minas, com as coisas que ele fez. É uma completa distorção o atual momento”, critica Therezinha, se referindo ao ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) e ao deputado federal Aécio Neves (PSDB), articuladores do golpe de 2016.
Compare a riqueza do Lula com a riqueza de um Aécio. É uma coisa impressionante, pois há uma distorção permanente para a manipulação. E isso é velho, não é de agora, esse negócio de que estamos na lama é coisa de Carlos Lacerda, lá atrás, bem antes do golpe de 1964. E hoje nós continuamos vendo as pessoas distorcerem os fatos
No entanto, prossegue Therezinha, apesar dos retrocessos, há um aprendizado muito grande com todo esse processo que se instalou no Brasil desde o golpe. Há a possibilidade, diz ela, de o povo perceber como a história se repete no mundo todo e ao longo do tempo.
“Temos de acompanhar a história de perto, lendo, estudando. Eles agem com base no suborno e isso é velho. A diferença é que atualmente a máscara está caindo, porque eles estão desavergonhados, estão ousados”.
“Um presidente que em um dia diz uma coisa e no outro diz outra, fica nessa indecisão, é de uma incompetência e mediocridade que não é possível, as pessoas vão enxergar em algum momento”, avalia Therezinha.
“Só não enxerga essa realidade quem é igual. Quem não é igual a eles, está enxergando. E é isso que vai mudar o futuro. Pode ser que eu não veja esse futuro, pois leva tempo, mas vai acontecer”.