Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
O primeiro mês do novo governo Lula já foi totalmente atípico. Afinal, quem conhece um Presidente da República brasileiro que em sua primeira semana no poder já teve que enfrentar uma tentativa de golpe? Para começar, é preciso definir claramente que o que ocorreu em 8 de janeiro não foi uma ação amalucada de manés. Tentaram sim derrubar alguém eleito pela maioria da população e na trama participaram também Forças Armadas e a PM do Distrito Federal . Como se diz no popular, foi uma tentativa de golpe “se colar, colou”.
Se tudo desse totalmente certo, os milicos patetas voltariam ao governo. Duraria poucas horas, até pelo isolamento internacional monstro que causaria ao Brasil e seus negócios, mas derrubaria sangue de compatriotas e tumultuaria sem dúvida o ambiente institucional.
O mais provável é que se tentou dar um golpe em Lula, concedamos, mais sofisticado. Os militares acreditavam que o tumulto em Brasília seria seguido de badernas nas ruas de outras cidades brasileiras e, assim, o presidente apelaria à Garantia da Lei e da Ordem, instrumento que daria às Forças Armadas, na prática, o controle do Pais.
Lula, seria nesse caso, um “pato manco” já na primeira semana de administração. Como no antigo programa “Chaves”, só “não contavam com a astúcia” de Lula, que sentiu o cheiro de queimado e fez valer sua autoridade conferida pelo povo.
Com tudo isso, é mais claro que não será um governo normal, nem em comparação com os anteriores do próprio Lula. A extrema-direita cresceu muito no Brasil, a situação econômica da grande maioria do povo é péssima, o fascismo tem pela primeira vez alguma base popular etc, e o próprio Lula sabe que tem que entregar a mercadoria em prazo apertado.
Não há razão nenhuma, pelo menos por enquanto, para duvidar da palavra presidencial de que não concorrerá a um novo mandato. Logo, Lula terá apenas apertados quatro anos para reconstruir o Pais e seu tecido social e político destruído por Bolsonaro. Não é tarefa para fracos, é um desafio imenso até para um camisa 10 como Lula.
Nas administrações anteriores de Lula e Dilma costuma-se apontar como erro, com certa dose de razão, o PT em boa medida ter trocado a mobilização e as ruas pela política de gabinete, distanciando-se dos movimentos sociais. Muito mais do que antes, o equívoco, se repetido, seria muito mais perigoso agora.
Lula, não se iluda, enfrentará uma oposição feroz do novo Congresso, que conseguiu a proeza de ser ainda mais reacionário no cotejo com o que está indo embora. E a tarefa de evitar o preço das chantagens do Centrão exigirá um esforço a que não estão acostumadas as forças progressistas: presença constante nas ruas para defender propostas do governo.
Teremos que gritar a favor, não contra. Nenhuma reforma relevante, dentre as muitas indispensáveis, saírá boa se depender apenas de acertos parlamentares. O grito no asfalto e nas quebradas terá que reforçar as mudanças. Não é, definitivamente, hora de calma.
Lula pode muito, mas poderá muito mais se houver mobilização para ajudar. Parece uma tarefa simples a que já está demandada para o campo popular, mas não é. A verdade é que desde os nossos governos, por certa inércia, e do que veio depois do golpe não privilegiamos a rua, muito menos para nos manifestarmos a favor de alguma coisa oriunda de governo.
Não podemos deixar tudo na mão de Lula. Temos que ajudá-lo, não sentados, e sim nas ruas. O Brasil foi destruído pelo fascismo. Ninguém, nem o Pelé da Política que é Lula, conseguirá ganhar essa decisão sozinho. A hora não permite descanso. Ganhamos a eleição, mas o trabalho político vai exigir muito mais.