Agência da ONU diz que chance de pelo menos um ano acima do limite do Acordo de Paris (aumento de 1,5º C) é de 66%
Por Observatório do Clima, compartilhado de Projeto Colabora
Paisagem seca no Iraque durante onda de calor: agência da ONU prevê recordes de calor para os próximos anos (Kureng Dapel/OMM)
(Priscila Pacheco*) – Relatório publicado nesta quarta-feira (17/05) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência especializada da ONU, afirma que o aquecimento global pode ultrapassar 1,5ºC em algum momento entre 2023 e 2027. A temperatura média anual global nos próximos cinco anos será entre 1,1°C e 1,8°C maior do que a média observada na era pré-industrial (1850 a 1900).
Segundo a OMM, há 66% de chance de a temperatura global ultrapassar a barreira do 1,5ºC por pelo menos um ano no período avaliado. Há 98% de probabilidade que o quinquênio seja o mais quente já registrado. O Acordo de Paris, assinado em 2015, tem como meta garantir que o aquecimento da Terra neste século fique abaixo de 2ºC, com esforços para que ele seja estabilizado em 1,5ºC.
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O IPCC, o painel do clima da ONU, mostrou em 2018 que os impactos de um aquecimento de 2 graus seriam muito graves e difíceis de manejar. Desde então, vários países tratam 1,5 graus como o limite a perseguir. O mesmo IPCC mostrou em 2021 que o esquentamento do planeta deve superar essa cifra por volta de 2030. Agora, a OMM prevê que isso ocorrerá muito mais cedo, ainda que temporariamente.
O impulsionamento da temperatura a partir deste ano deve ocorrer devido ao aumento da emissão de gases de efeito estufa e pela ação do fenômeno atmosférico-oceânico El Niño, que aquece as águas do Pacífico tropical e deixa algumas regiões mais secas e quentes. “Espera-se que o aquecimento do El Niño se desenvolva nos próximos meses e isso se combinará com a mudança climática induzida pelo homem para empurrar as temperaturas globais para um território desconhecido”, disse Petteri Taalas, secretário-geral da OMM. “Isso terá repercussões de longo alcance para a saúde, segurança alimentar, gestão da água e meio ambiente. Precisamos estar preparados”, completou Taalas, na apresentação do relatório.
Há apenas 32% de chance de que a média de cinco anos exceda o limite de 1,5°C, de acordo com a Atualização Global Anual a Decadal do Clima produzida pelo Met Office do Reino Unido, o principal centro da OMM para essas previsões sobre o aquecimento global. A chance de ultrapassar temporariamente 1,5°C aumentou constantemente desde 2015, quando estava próxima de zero. Para os anos entre 2017 e 2021, houve 10% de chance de superação. “Prevê-se que as temperaturas médias globais continuem aumentando, nos afastando cada vez mais do clima a que estamos acostumados”, disse Leon Hermanson, cientista do Met Office que liderou o estudo e participou da apresentação.
Em um relatório publicado no mês de abril, a OMM ressaltou que em 2021, último ano para o qual os números globais consolidados estão disponíveis, os níveis atmosféricos de gases de efeito estufa CO2, metano e óxido nitroso atingiram novos recordes. Dados em tempo real coletados em locais como Havaí, nos Estados Unidos, e Tasmânia, na Austrália, indicaram que as concentrações dos três gases no ar continuaram em crescimento no ano passado.
Em março, foi destacado no relatório-síntese do IPCC que as emissões de gases de efeito estufa precisam diminuir 43% até 2030 para barrar o aquecimento global.
O relatório desta quarta-feira também apresenta informações sobre mudanças nos padrões de precipitação. É possível que neste ano as chuvas sejam mais reduzidas em partes da Indonésia, Amazônia e América Central em comparação com o período de 1991 a 2020. Entre os meses de maio e setembro de 2023 a 2027, é possível que haja chuvas acima da média no Sahel, região da África na borda do deserto do Saara, no norte da Europa, no Alasca (EUA) e no norte da Sibéria (Rússia). Na mesma temporada, a Amazônia e trechos da Austrália ficarão mais secos. Já no norte da Eurásia, a precipitação deve ser exagerada entre dezembro e fevereiro até 2027.
*Priscila Pacheco é jornalista, colaboradora do Observatório do Clima e co-fundadora da Mural – Agência de Jornalismo das Periferias