Araraquara, Macondo

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Por Ademir Assunção, poeta e jornalista – 

Quando era criança eu achava que para ser poeta era preciso, primeiro, morrer.

Havia um motivo para a desmiolada crença infantil: todos os poetas que os professores mostravam na escola já estavam mortos. Não havia um vivo. Exceto um: Carlos Drummond de Andrade.




O primeiro poeta vivo que vi ao vivo e em cores, nas ruas de Araraquara, foi José Roberto Telarolli. Boêmio incorrigível, malucão irreverente, era uma lenda na cidade. Dizia-se que ele costumava se postar na porta da Matriz, logo que o padre iniciava a missa das 18h, e fazer sua voz ecoar pela nave da igreja, para desgosto do vigário:

“No monte da Galileia, no alto da sinagoga, à beira do Rio Jordão, disse Pedro a Pedrão: Pedrão, vamos fumar maconha!”

Este foi o primeiro poeta vivo que vi na vida.

O primeiro escritor, autor de contos e romances, foi Ignácio de Loyola Brandão.

Sua fama já ia muito além de Araraquara. Ele morava em São Paulo e era um autor conhecido nacionalmente.

Quando eu tinha uns 15 anos de idade, Loyola deu uma palestra no IEBA – Instituto de Educação Bento de Abreu. Era a escola em que eu estudava.

Sua palestra teve um forte impacto sobre mim. Não lembro mais o que ele falou, mas lembro do impacto. Estava ali, no palco, diante de mim, um escritor. Vivo. Contando histórias e fatos que me fascinaram.

Se a memória não me falha, creio que ele falou sobre o livro Dentes ao Sol – cuja história se passa, inconfundivelmente, em Araraquara. Uma Araraquara mítica, talvez uma espécie de Macondo, mas com rastros, pistas e tipos humanos perfeitamente identificáveis para um araraquarense.

Há 33 anos moro em São Paulo. Fiz minha trajetória como poeta e jornalista. Mas nunca procurei Loyola. Nos encontramos umas três ou quatro vezes em eventos literários Brasil afora, mas nunca trocamos muitas palavras. Não sei por que nunca o procurei. Talvez um certo orgulho, reserva ou esquisitice típica de araraquarense.

Sou apaixonado por seu estilo seco, ao mesmo tempo delirante, profético. Vários livros dele me causaram espanto e encanto, sobretudo Dentes ao Sol, Não Verás País Nenhum e Pega ele, Silêncio. Esses, mais que o clássico Zero.

Mas nunca havia dito isso a ele.

Ontem, na Mercearia São Pedro, ao lado de minha amada Diana Junkes, finalmente o abordei e falei tudo isso.

Ainda não foi o encontro que devemos (ou não) um ao outro. Conversa rápida, em meio a outras pessoas que também queriam trocar algumas palavras com ele. Mas o suficiente para dizer-lhe sobre meu orgulho de ter nascido no mesmo berço que o gerou.

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