As pessoas cobram posição, nos insultam nos chamando e “comprados” ou de se calar diante da iminência de ter algum cargo. Isso é indecente e pobre sob qualquer ponto de vista e a minha história particular responde por mim. Não usem argumentos ad hominem para desqualificar as pessoas.
Por Elias Jabbour, compartilhado de Construir Resistência
Dito isso, falo o seguinte: sou altamente crítico ao novo arcabouço fiscal aprovado. Por uma questão simples: nele estão inseridos mecanismos que comportam uma visão de poupança ex ante e certa relação de causalidade entre redução da dívida pública com a certeza do investimento privado e estrangeiro.
Eu não ensino isso aos meus alunos. Muito pelo contrário. Ou seja, neste aspecto me posiciono de forma contrária ao que foi proposto. Mas eu não estou na academia ou defendendo uma tese. Estou me observando como um ser político que opera em concordância com uma visão de totalidade e de acúmulo material. Sem força política nada acontece e nas atuais circunstâncias votar contra o governo é praticamente se colocar contra ele. Explico. Entendo a postura de gente séria como o @jonesmanoel_PE
que está em uma posição de crítica aberta ao arcabouço. Ele não é governo, seu partido está fora do governo e tenho certeza de que ele e o partido dele querem o melhor ao povo brasileiro. Agora, ser governo é outra coisa.
E eu sou governo, sou parte da construção política que lutou contra toda a tragédia que acometeu nosso país desde as “jornadas” de 2013. Vivemos o fascismo e perdemos completamente a iniciativa política. Qualquer derrota do governo, por menor que seja, é uma grande derrota. Por isso votaria com o governo, sem dúvidas. Respeito quem votou contra, mas ser governo é ter o ônus e o bônus disso. Ao contrário, que entregue todos os cargos no governo e tenha uma posição séria, não oportunista, de votar “de acordo com as convicções”. Nisso , entre outras coisas, eu respeito o @PCBpartidao, por exemplo.
Com relação à política e a nossa real força material, tenho a seguinte opinião. Não temos força no congresso para passar coisa melhor do que isso. E nisso também reside a necessidade de votar contra o governo, pois a própria vida vai dar cabo desta regra como foi com relação ao teto de gastos. Essa regra não é do Fernando Haddad e sim, de Lula. E Lula é uma liderança antineoliberal hoje, mas ele tem senso de realidade e de sua própria margem de manobra.
Tenho 32 anos de militância e desafio alguém fazer um cálculo para mim de que com mobilização popular (num país com alto índice de desempregados) e com uma base governista fluida daria para passar algo melhor do que foi feito. Não passaria. Daqui um ano pode passar algo melhor? Acredito que sim, sob a própria pressão que Lula terá diante de si para vencer as próximas eleições.
Esse arcabouço fiscal vai abrir alas para a volta do fascismo? Não ousaria dizer isso, por alguns motivos. O primeiro é que a economia brasileira tem elementos de dinamismos que pouco se estuda e se conhece e também o efeito de encadeamento da nova regra do salário mínimo e do Bolsa Família ainda se fará sentir.
Enfim, entendo e concordo com praticamente todas as críticas feitas ao arcabouço. Mas ser governo pós-fascismo não é uma questão menor ou uma ciranda. A vida é por demais dura. Discordem de mim, ao menos com alguma educação.
Elias Jabbour é professor Associado da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCE-UERJ), do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas (PPGCE-FCE-UERJ) e do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais (PPGRI-UERJ). É Subchefe do Departamento de Evolução Econômica da FCE-UERJ.