Arquiteto UBERnista: das malas carregadas a carregador das mesmas

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O Bem Blogado viaja novamente no Uber do arquiteto Sérgio AR Pereira, autor do livro “Arquiteto & UBERnista”.

Sérgio, arquiteto urbanista, entre 2017 e 2019 trabalhou como motorista de aplicativo. No livro, o profissional transporta os leitores a um mundo de ambigüidades, coincidências, autoritarismo e, por que não?, humanismo.




Nesta edição, faz um rodízio de suas impressões sobre arquitetura e também sobre as lições de humanismo que a vida nos oferece. Boa viagem cinco estrelas para você.

“Em um dia de sol majestoso, recebo um chamado  em Higienópolis, bairro que provavelmente abriga a maior quantidade de exemplares daquela arquitetura “modernizante” que em minha opinião não só se destaca como ofusca a arquitetura que a antecedeu quanto a que a sucedeu. Não que existam termos e comparações explícitas, mas o conjunto das obras exerce esse fascínio a olhares atentos. E a leigos, inclusive.

O chamado foi de um senhor de meia idade, que adentrou o ve ículo me avisando que tinha pressa para chegar a uma reunião e que gostaria que eu me empenhasse para conduzi-lo da maneira mais rápida possível, dentro da legislação de trânsito, obviamente.

Gostei da observação do cidadão, que já foi logo elogiando a empresa Uber, que tanto o ajudava a se locomover, pois ele podia transi-tar pela cidade várias vezes, de maneira econômica e sem se estressar com o trânsito complicado, que tanto maltratava a saúde das pessoas.

Disse-lhe que eu nunca havia me estressado pelas condições do trânsito e que conseguia manter a calma mesmo em momentos de catástrofes como às vezes ocorriam na Marginal Tietê. Disse isso e me pus a pensar novamente nos edifícios com pilotis de Higienópolis, quando esse senhor me puxou de volta a minha nova realidade, dizendo: “Ah, mas vocês estão aí na sua profissão e têm que suportar mesmo, senão, morrem loucos”.

Esqueci-me rapidamente de nossos mestres da Arquitetura e me lembrei de minhas contas que mal conseguia pagar com o dinheiro arrecadado.

Vieram-me à cabeça os contrastes a que estamos sujeitos em nossas vidas. Quando estive em Paris fiz questão de visitar o Arco La Defense, um prédio monumental que foi idealizado a partir do estabe lecimento de um concurso internacional de arquitetura e teve a participação de dois ou três arquitetos brasileiros exclusivamente convidados para o certame.

Ele fica no mesmo eixo do Arco do Triunfo e   do existente no Louvre, formando uma tríade de arcos que conta boa parte da história da cidade e do país. O concurso foi vencido por um arquiteto francês e um dinamarquês, que juntos tiveram a sensibilidade de criar um novo arco na paisagem parisiense.

Fui a Paris para participar como único representante da CEAGESP em uma convenção da União Mundial dos Mercados Atacadistas em 2009 e esse evento iniciou-se com uma recepção na Prefeitura de Paris, onde o prefeito nos cumprimentou um a um, e findou cinco dias depois com um magnífico jantar no restaurante da Torre Eiffel (Le Jules Verne), na qual eu já havia subido mais cedo em meu segundo dia na cidade.

É difícil escolher qual vista de Paris é mais bonita, se a diurna ou a noturna. Deu tempo ainda de visitar o Louvre, a linda Biblioteca de Paris, o bairro Montmartre, um dos cinco “montes” de Paris, sua boemia, gastronomia e a imponência da igreja de mesmo nome, antes de continuar minha viagem pela Suíça, ainda a trabalho, e depois Itália, onde fiquei por 12 dias de férias muito bem aproveitadas.

Estava sozinho e por onde passava havia pessoas me ajudando a carregar malas, me prestando informações e serviços diversos, me auxiliando a alcançar meus objetivos e destinos de maneira rápida e eficiente.

Lembrei-me disso tudo de maneira alegre, pois o fato de ter pas sado por essas maravilhosas situações em minha vida e muitas outras de quilates parecidos não me transformaram em uma pessoa arrogante.

Pelo contrário, cumpri meus deveres e obrigações e gozei de minhas mordomias, com humildade e compreensão de que aquilo era uma oportunidade ótima em minha vida.

A ocasião repetiu-se em outra convenção em Berlim em 2012. De novo, a recepção pelo prefeito da cidade, e o jantar em um edifício  histórico ligado ao abastecimento de água potável da cidade. Dessa vez estava com um grupo de brasileiros de outras centrais de alimentos expressivas do Brasil e passamos por Londres, Lisboa, Bolonha, Ve neza e Milão antes de nossa ida para Berlim.

Em Milão eu tive a honra       de ser o tradutor de idiomas (italiano e português) entre nosso grupo  e os interlocutores milaneses. De novo os serviços que recebi de pessoas que trabalhavam nos aeroportos, hotéis, restaurantes e bares por  onde passei foram muito apreciados por mim com gratidão.

Na narrativa anterior a que me referia à nossa arquitetura e como a apreciava, e fui remetido à minha nova realidade de motorista de aplicativo, me lembrei dessas oportunidades e encarei com naturalidade o contraste entre as situações. Naquele mesmo dia eu ajudei dois passageiros a colocar suas malas em meu carro e depois a tirá-las do veículo em seu destino. Passei a carregar malas, dentro dessas mi- nhas novas vivências.

Lembrei-me desses fatos e me vi naquela situação dos carregadores de mala que me ajudaram em minhas tantas viagens, confirmando como há importância em tudo o que fazemos. Tudo tem um grande significado, quando nos damos conta daquilo que realmente somos e representamos.

Naquela época ainda tinha pequenas noções sobre o conceito budista que nos alerta e nos fortalece com a constatação de que toda e qualquer situação é mutável e impermanente.

Após essas situações vividas e narradas, entendi melhor esse profundo preceito e me aprofundei mais nos estudos budistas, frequentando um curso com a Monja Coen, que muito me ensinou e nos ensina com sua simplicidade e sabedoria acumulada.

Transportei doentes graves (possivelmente a maior expressão, em nós, de nossa impermanência) e também médicos (possivelmente uma das carreiras profissionais de maior solidez no Brasil). Ambos merecedores do mesmo tratamento e do maior respeito que se pode dar  a um ser humano.”

Para adquirir o livro “Arquiteto & UBERnista”

Fazer contato pelo WhatsApp – (11) 93715 5328

Valor do livro R$ 40,00

Valor do envio R$ 10,00 (para todo o território nacional)

Valor total R$ 50,00

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