As academias de ginástica e os trabalhos pesados e mal remunerados

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Por Luiz Azevedo, mestre em sociologia e assessor pela Veredas Inteligência Estratégica

Um sexagenário foi aconselhado pelo seu médico a fazer academia como forma de reduzir peso e suas gorduras localizadas, especialmente na barriga. Um homem da terceira idade – que de melhor nada tem -, passou grande parte de sua vida fazendo articulações políticas, estudando, pesquisando e escrevendo, trabalhos que continua a desempenhar como forma de complementar sua miserável aposentadoria.




Seguindo orientação médica, o jovem envelhecido sujeito compareceu à academia mais próxima de sua casa. Matriculou-se e, depois de tomadas todas suas medidas, recebeu um guia de atividades para executar.

Ao entrar na academia deparou-se com máquinas e equipamentos de todo tipo. Mas, o que lhe chamou a atenção foram as atividades que estavam sendo desenvolvidas por homens e mulheres de todas as idades.

Com pernas, coxas, braços e peitos musculosos e bundas arrebitadas faziam imenso esforço em suas atividades físicas, levantando ferros de todos os pesos, alguns muito pesados. Outros corriam na esteira como se estivessem fugindo de alguém.

Muitos eram os exercícios possíveis para fortalecer os músculos. Já vivido, o sexagenário comparou aquela situação com a realidade social vivida pela classe trabalhadora de seu país.

Ao ver como corriam na esteira pensou imediatamente nos trabalhadores da limpeza urbana, que correm horas por dia juntando o lixo e os jogando na caçamba do caminhão, atrás do qual se dependuram e respiram metano, merda e comida estragada nos intervalos das corridas. Recebem salários miseráveis, possivelmente porque o empregador considera que não vão precisar gastar com academia para se exercitar.

Vendo os exercícios para fortalecer os braços e ombros não pôde deixar de os relacionar com as vantagens daqueles que trabalham com britadeiras, cortando pedras e asfaltos pelas cidades. Atividade que exige imenso esforço e concentração, mas massageiam todos os músculos, inclusive do cérebro e do coração.

Seus salários também são muito abaixo do esforço despendido. Mas, ao calcular a remuneração, o empregador que sobrevive de sua exploração, certamente desconta as massagens propiciadas pelos fortes impactos da britadeira naqueles quem exercem esta profissão.

Havia na academia homens e mulheres levantando pesos. Faziam um esforço danado, que os levava a enxugar o suor com uma pequena toalha. O sexagenário pensou

imediatamente no trabalho dos estivadores e, destacadamente dos chapas, que ficam parados à beira das estradas e nos armazéns sustentando placas de papelão ou madeira escrito CHAPA. Oferecem-se para carregar e descarregar caminhões em armazéns e nas

vias urbanas.

O político conservador Adhemar de Barros, nas décadas de 1950/60 chamava de “meus chapas” aqueles que se aliavam à sua chapa eleitoral. Nada a ver com os verdadeiros chapas dos motoristas de caminhão, que fazem um esforço muito maior do que conseguem obter na remuneração. Tiveram seus direitos reconhecidos apenas na Constituição Federal de 1988. Carregam nas costas sacos, caixas, geladeiras, móveis, peças pesadas e materiais de todo tipo, subindo e descendo escadas.

Com certeza, entre aqueles homens e mulheres que estavam ali na academia, buscando alcançar seus padrões de beleza e saúde, não se encontravam carregadores, estivadores, serventes de pedreiro e lavadeiras com suas latas d´água na cabeça.

Seus tempos estão por demais ocupados por longas jornadas de trabalho e a frequência em academias sequer passa pela cabeça destes trabalhadores. Podem até desejar saúde e se aproximar dos padrões de beleza dominantes. Conseguem ter fortes músculos nos braços e pernas, mas acompanhados de calos, quando não de fraturas provocadas por acidentes.

Suas academias são as labutas diárias por trabalho e no trabalho. Seus vencimentos são baixos.

Quem sabe porque os empregadores descontam da remuneração valor equivalente aos exercícios físicos exigidos em suas atividades.

O primeiro dia do sexagenário na academia foi muito producente. Propiciou-lhe refletir sobre como a sociedade é injusta com milhares de trabalhadores que se matam de

trabalhar, fazem trabalhos pesados, se metem no meio de esgotos, são forçados a respirar e a limpar a merda e a sujeira produzida pela espécie humana, da qual fazem parte moças, rapazes, homens e mulheres que consomem seu tempo nas academias em busca de saúde e de um corpo que corresponda aos padrões de beleza dominante.

Ao voltar para casa pensou se não estava sendo um velho rabugento. Afinal, os avanços tecnológicos e informáticos têm propiciado à humanidade alternativas ao trabalho pesado e desumano. É verdade, mas não para todos.

São milhares os que vivem de trabalhos pesados. E, aqueles que foram substituídos pelas máquinas fazem trabalhos precarizados ou se encontram desempregados.

Ainda portam chapas, cartazes e placas dependurados pelo corpo em troca de uns trocados, por vezes nos semáforos. Enfim, as máquinas e evoluções tecnológicas têm deixado uma legião de trabalhadores em situação precarizada, distantes das academias. Vivem nas periferias desempregados ou labutam em algum trabalho pesado e mal remunerado.

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