O premiadíssimo cineasta sul-coreano Hong Sang-soo é conhecido pela velocidade de sua produção. Desde que estreou no cinema, há 29 anos, ele já dirigiu nada menos que 36 longas metragens. Fora os curtas. Vários deles são bastante parecidos entre si, a ponto do próprio diretor recentemente ter se confundido, durante uma entrevista, sobre qual de suas obras ele estava falando.
Por Celso Sabadin, compartilhado de Planeta Tela
De uma maneira geral, seus filmes são compostos por planos bastante longos, recheados de diálogos, com quase nenhuma trilha musical, nos quais seus personagens caminham pelas ruas e parques, e/ou almoçam ou jantam em restaurantes. A mesa farta é um dos territórios favoritos do cineasta, e o alcoolismo é uma referência sempre bastante recorrente.
Apesar desta extrema simplicidade narrativa – ou justamente por causa dela – os filmes de Hong Sang-soo são hipnóticos. Pelo menos para mim. Quando começo a ver um deles, em pouco tempo me sinto um participante da trama, como se eu estivesse ali num daqueles restaurantes junto com os personagens, quietinho, ouvindo suas histórias de vida. Histórias que nada têm de mirabolante, mas tudo têm de realidade.
“As Aventuras de uma Francesa na Coreia” é o título do mais recente longa de Sang-soo a chegar no Brasil. Ele estreou em 2024 no Festival de Berlim e neste último 10 de abril no Brasil. Evidentemente não é o trabalho mais recente do cineasta, que já lançou mais dois longas, que breve deverão chegar por aqui.
Ele inclusive deve estar fazendo mais um neste exato momento em que eu escrevo este texto.
“As Aventuras de uma Francesa na Coreia” é a tradução brasileira do coreano “Yeohaengjaui Pilyo”, algo como “as necessidades de um viajante”. A viajante em questão é a sempre ótima Isabelle Huppert, a tal francesa do título traduzido que, na verdade, não passa por tantas aventuras assim. Ela sobrevive na Coreia dando aulas de francês de maneira pouco ortodoxa, provocando os mais diversos sentimentos em seus alunos, que devem aprender a escrever, em francês, as suas emoções. Entre uma lição e outra, encontra com pessoas, come, bebe (bastante) e trava uma bonita amizade com um rapaz em mais jovem.
E assim novamente, “do nada”, me vejo hipnotizado pela rica simplicidade e pelo encantador minimalismo de mais uma bela obra de Hong Sang-soo. Não por acaso, o filme venceu o Grande Prêmio do Júri Berlim 2024.