Uma tentativa de golpe militar frustrada na Bolívia surpreendeu o mundo, na tarde de quarta-feira, (26 de junho de 2024).
Por Adriana do Amaral, compartilhado de seu Blog
na foto: “Ninguém nos pode tirar a democracia que conquistamos”, diz presidente Luis Arce após fim da insurreição militar na Bolívia. Foto: Juan Karita/AP Photo
Um caminhão blindado arrombou a porta da sede do Palácio do Governo, em La Paz, e dezenas de soldados respaldavam a ordem do general Juan José Zuñiga.
A mobilização popular
A reação do povo boliviano foi imediata.
Aos poucos, eles tomaram a Praza Murillo e, coletivamente expulsaram os militares.
O apoio popular ao presidente Arce ganhou o mundo.
Chamou a minha atenção, o fato de os soldados não confrontarem seus conterrâneos;
Eles não contra-atacaram.
Consciência política
Cito aqui, uma das maiores referência na luta popular boliviana, Domitila Barrios de Chungara.
A boliviana, que dedicou a sua obra na educação popular, nunca poupou sua voz, resiliência de dona de casa e resistência do próprio corpo para esclarecer o povo boliviano – e mundo- sobre os abusos dos militares e do movimento neoliberal internacional, que, junto com empresário locais, era agentes para a exclusão dos direitos civis e trabalhistas na década de 1970.
No movimento sindical, foi a única mulher entre os homens,
Na ONU, uma dona de casa entre as feministas.
“Há corrido sangue a morir”,
relatou para a escritora brasileira (casada com um boliviano) Moema Viezzer, no livro Se me deixam falar…
Eram tempos em que o exército boliviano matava antes de perguntar.
Quem sobrevivia era torturado nas prisões. Inclusive Domitia, que foi exilada do seu país, tornou-se refugiada, migrante, mas ousou voltar.
Ela se tornou símbolo da resistência boliviana.
Muitas vezes, na lida contra a hegemonia do poder, a mãe de família questionou os policiais, principalmente aos jovens:
Mas, você também é povo!
Sabia, porém, que muitas vezes a carreira militar era a única opção à fome.
Eles cumpriam ordens.
Nas imagens que assisti, da tentativa de golpe militar na Bolívia, ontem, foi os militares recuando frente à vontade do povo.
Aos poucos a voz de Domitila, antes apenas uma mãe de família e mulher de trabalhador das minas, foi sendo ouvida, inclusive pelos divergentes, como nos ensinou Paulo Freire…
A polícia que é do povo
Tão diferente das polícias de São Paulo, que fere e mata sem direito à defesa, como garante a lei brasileira, os soldados bolivianos mostraram humanidade.
Na Bolívia, mesmo os adversários políticos apoiaram o presidente Luis “Lucho” Arce, que foi taxativo ao dizer:
“La Constituición boliviana se respeta.”.
A ex-presidenta empossada após denuncias de fraude eleitoral, nunca confirmada, Jeanine Anês. de direita, defendeu a democracia.
Evo Moralez, ex-presidente, líder da esquerda boliviana, condenou a tentativa de golpe militar.
As instituições também se manifestaram:
A ONU, escritório na Bolívia, divulgou documento afirmando ser preciso “respeitar a paz e defender a democracia.”.
Países da União Europeia foram na mesma linha ideológica, em defesa do estado de direito.
Os presidentes do Chile, Daniel Boric, da Colombia, Gustavo Petro e Uruguai, Luis Lacalle Pou, endossaram a atual gestão boliviana.
No Brasil, o presidente Lula afirmou:
“A posição do Brasil é clara. Sou um amante da democracia e quero que ela prevaleça em toda a América Latina. Condenamos qualquer forma de golpe de Estado na Bolívia e reafirmamos nosso compromisso com o povo e a democracia no país irmão presidido por Lucho.”.
Moral da história
A erva daninha dos ditadores se combate pela raiz.
A história brasileira, passada e recente, nos mostra que anistiar golpistas é manter a semente da ditadura militar viva.