Por Oscar Valporto, publicado em Projeto Colabora –
Na Câmara, Ricardo Salles critica ONGs, diz que mudança climática não é prioridade e promete privatizar parques
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, passou cinco horas, nesta quarta (10/04) em audiência pública conjunta das comissões de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia e de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente da Câmara dos Deputados e, apesar de não ter repetido barbaridades como dizer que Chico Mendes é irrelevante como fez em entrevista ao Programa Roda Viva, distribuiu algumas caneladas – para usar um termo caro ao presidente Jair Bolsonaro – que deixaram os ecologistas assustados.
Seguem 8 declarações, no mínimo, polêmicas do ministro:
1. “O defensivo agrícola no Brasil tem análise e aprovação demorado, ilógico e ineficiente. Isso faz com que o país tenha aprovado depois de seis, sete anos, produtos que em outros países já estão superados”.
(Segundo levantamento no fim de fevereiro, em 47 dias de governo Bolsonaro, 54 novos agrotóxicos havia sido liberados para o mercado brasileiro)
2. “Tem falta de gestão de lixo no Brasil inteiro, gravíssimos problemas de saneamento, problema de qualidade do ar. A questão da mudança climática pode e deve ser debatida pela comunidade científica e pela comunidade acadêmica, mas não pode ser o tema principal de um ministério que tem que cuidar desses temas que dizem respeito à qualidade de vida das pessoas. O que nós estamos assistindo é uma grande indústria de consultorias, viagens, seminários, dinheiro público internacional, dinheiro privado internacional, deslocando o foco dos órgãos federais, estaduais e municipais para a turma viajar e discutir o clima”.
(Para explicar porque a mudança climática não deve ser prioridade para o Ministério do Meio Ambiente nem para secretarias estaduais e municipais)
3.“Um dos pleitos do governo do Pará é rever as unidades de conservação; em especial, chamada Chamanxim, se não me engano. Foi ele quem disse: ‘a unidade de conservação está tolhendo o desenvolvimento do estado’. O pleito é do governador, não é meu”
(Sobre conversa com o governador Helder Barbalho; na realidade, Jamanxim – o ministro errou o nome duas vezes – é uma floresta nacional)
4. “Tanto a demarcação das terras indígenas, quanto as áreas de conservação ambiental, quanto à demarcação de terras para fins de reforma agrária, têm que vir acompanhado de um estudo prévio porque, muitas vezes, ela está descalibrada. Se não em prol de uma ideia romântica de que questões de unidade de conservação ou de terra indígena, ela é sempre desejável em qualquer condição”
(Sobre áreas de preservação)
5. “O nível de informação produzida pelo INPE sobre a Amazônia não nos parece ser suficiente. Por isso, nós estamos agregando informações de outras fontes. Queremos imagens mais precisas e adequadas.”
(Ao responder sobre as informações de que o ministério estaria criando um órgão alternativo para monitorar o desmatamento o que é feito com reconhecida eficiência pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais há três décadas)
6.“O Conama é ineficiente nos debates, prolixo nas suas discussões, com pouco fundamento técnico e um prejuízo gigantesco à sociedade por sua morosidade e burocracia. Nós temos que reformular as regras. Temos que combater o assembleísmo.”
(Ao explicar porque quer mudar o número de integrantes e a forma de funcionamento do Conselho Nacional de Meio Ambiente)
7. “Há uma diferença muito grande entre defender o beneficiário, o indígena, o quilombola e defender aqueles que os manipulam para retirar recursos. O que não falta é ONG ou entidades que a pretexto de fazer essa defesa ficando com 60% ou 70% desses recursos lá no Fundo Amazônia. O sistema do Fundo Amazônia pode ser melhorado e muito. O acesso aos recursos do Fundo Amazônia padece de uma análise de mérito. O requisito de mérito decorre da opção de desenvolvimento, no mérito, feito pela população nas eleições.”
(Sobre o Fundo Amazônia e apontando para mudanças no acesso aos recursos)
8. “Nós vamos fazer a concessão da maior quantidade de parques que forem possíveis para serem tocados pelo setor privado dentro do pressuposto básico de que não há nenhum exemplo de área de conservação pública que seja mais bem cuidada do que uma área concessionada. Eu fui a Nairobi e lá tem um parque excepcional, ao lado da cidade: você vê girafas, rinocerontes e os prédios ao fundo. Se fosse no Brasil, ia ter estudo sobre impacto psicossocial nos animais que enxergam o prédio”.
(Sobre incentivo ao Ecoturismo)