Por Luis Felipe Miguel, publicado em Jornal GGN –
Para a jogada mirando 2022 ter dado certo, Moro teria que ter garantido um vice-reinado no governo
Sei que a eleição passada mostrou que não há limite para a capacidade do eleitorado brasileiro escolher um demente para a presidência, mas acho que Sérgio Moro faz bem em ficar no seu cantinho, aguentando as humilhações públicas quase diárias que seu chefe lhe proporciona e esperando o tempo passar para chegar ao STF.
Não creio que ele tenha condições de disputar as eleições. Como juiz, tornou-se uma espécie de mito exatamente por não ter limites éticos na sua atuação. Péssimo traço de caráter, mas não necessariamente um óbice a futuras pretensões eleitorais. Como ministro, porém, rapidamente revelou-se também frouxo e incompetente. Aí a coisa complica.
As chances de Moro dependeriam de dois fatores. Primeiro, a manutenção de sua imagem heroica, mas é improvável que ela resista à sua passagem pelo ministério. Depois, a possibilidade de escapar de qualquer debate eleitoral, já que ele é notavelmente desprovido de capacidade argumentativa. Mas Bolsonaro já usou esse recurso, que ficará mais custoso depois de sua presidência desastrosa.
Quando o acerto para que Moro virasse ministro foi publicizado, os jornalistas ainda em lua de mel com a direita vitoriosa se apressaram em dizer que o único problema da escolha era que Bolsonaro estava nomeando alguém que ele não poderia demitir. Em menos de um mês de governo, já estava claro que não era nada disso e Moro se tornara um mero enfeite do gabinete; mais exatamente, um capacho.
Para a jogada mirando 2022 ter dado certo, Moro teria que ter garantido um vice-reinado no governo, uma área em que pudesse agir por conta própria. Mas não tinha a habilidade ou o brio para isso. Na verdade, provavelmente nem saberia o que fazer com um poder assim.
Se chegar ao STF já estará no lucro. E, lá chegando, encontrando gente como Toffoli, Fux, Barroso, Alexandre de Moraes e Carmen Lúcia, nem se sentirá um peixe fora d’água.