Por Ulisses Capozzoli, jornalista
Quando a Terra se formou (há uns 4,5 bilhões de anos, a partir de uma estrela que explodiu e também deixou matéria elaborada para formar o Sol e outros corpos do atual sistema solar) era uma bola incandescente e por muito tempo isso não mudou. Até que a perda de calor para o espaço cósmico permitisse a liberação de água que deu origem às primeiras chuvas.
Durante um tempo impreciso choveu sobre uma superfície quente, o que fez com que essas precipitações pioneiras se evaporassem em seguida, num processo que lentamente resfriou a superfície da Terra, mesmo que seu interior, ainda hoje, por um conjunto de razões, permaneça quente com um núcleo líquido.
Então, muito lentamente a Terra, mais receptiva, foi fecundada pela vida. Material elaborado chegou do espaço profundo trazendo conteúdo/informação para fecundar a Terra, processo ainda hoje motivo de debate/controvérsia. Há quem defenda que a vida na Terra é algo como um evento local.
De um ponto de vista lógico-estético, no entanto, essa é uma interpretação reducionista: a vida é algo inevitável, em um universo organizado com o nosso (supondo que possa haver outros universos, sob a forma de multiverso, alguns deles eventualmente “sem leis”, como as que conhecemos aqui). E para destacar algo talvez insuspeitado por parte da maioria das pessoas: a definição do que é vida ainda não tem resposta satisfatória.
O fundamental, nesse primeiro bloco compactado de informação é demonstrar que as chuvas são essenciais para a modelação de um mundo, em um universo com leis. Mas neste contexto é preciso considerar que o que chamamos de “clima”, um conjunto de variáveis resultante da interação entre a superfície do planeta (em um contexto cósmico, obviamente) e sua atmosfera mudou.
No antigo reino dos dinossauros, extintos há 65 milhões de anos, as temperaturas eram mais elevadas, com maior concentração de gases de efeito-estufa (dióxido de carbono, entre outros) na atmosfera. Por um processo conhecido como homeostase (a capacidade do corpo humano de aumentar a temperatura, a “febre”, por exemplo, para se defender de uma infecção) a Terra é considerada nas fronteiras da ciência, como um “organismo vivo” ou uma “nave viva” viajando pelo espaço que teve/tem mecanismos para regulamentação de ambientes.
A propósito, há 65 milhões de anos, o que coincide com a extinção dos dinossauros pelo impacto de um asteroide, nasceram as árvores com flores, uma “invenção” da Terra. Aos olhos dos antigos dinossauros, as florestas foram monótonas.
Este segundo bloco para expor minimamente um conjunto, que na essência é complexo, de dados de referência e chegar, mais rapidamente, à crise que vivemos exatamente hoje, a partir do momento em que nos levantamos da cama para confirmar que as condições ambientais não são um pesadelo de uma noite mal dormida, mas a mais pura e desconfortável realidade.
Por que as chuvas se escassearam e rios gigantes da maior floresta tropical da Terra, como o Solimões, o Negro (que juntos formam o Amazonas) ou o Madeira, o Javari e o Xingu, também da bacia amazônica, em poucos meses se reduziram a escassos fios d’água?
O clima é mutante, como tudo no Universo, mas não em curtíssimo espaço de tempo. O que significa dizer que o que ocorre na Terra, neste exato momento, tem íntima relação com as manipulações humanas o que implica concluir: tem origem antrópica.
Duas referências básicas, para simplificar a questão em curta postagem do Face. A primeira ligada às fontes de energia. A segunda, ao delírio humano, cultivado por uma elite, de acumular lucros como se essa fosse a essência da vida. E essas elites durassem séculos para desfrutar dessas supostas vantagens à custa de uma maioria de pessoas com direito natural a um bem-estar mínimo no planeta.
No primeiro caso, o fato de sermos uma civilização 1 na escala do que se chama de Civilização Kardashev (Nicolai Kardashev, 1932-2010 astrofísico russo). Isso significa que queimamos madeira, carvão, petróleo combustíveis primários, comparativamente pouco eficientes e extremamente danosos ao ambiente.
Um segundo tipo de civilização supostamente existente no Universo, eventualmente na galáxia em que vivemos, a Via Láctea, sugaria toda a energia de sua estrela, de forma mais eficiente e não poluente como a nossa. E finalmente, para simplificar a questão, uma civilização de tipo 3 que sugaria toda energia de sua galáxia.
No segundo caso, uma alienação profunda, resultado da dominação por uma consciência primária, de sede de acumulação de riquezas, o que faz com que uma elite social, de sociedades diversas e entre sociedades humanas, divididas entre países dominantes e dominados (no caso entre o centro capitalista e a periferia, explorada de forma subumana) produzisse um desequilíbrio ambiental planetário, como começamos a observar, com evidência irrefutável, nas últimas semanas: queimadas, temperaturas elevadas, atmosfera irrespirável, em especial nas grandes cidades, desaparecimento surpreendente dos grandes rios, na farta e ampla da Amazônia, a maior floresta tropical da Terra que já foi considerada “o pulmão do mundo”.
No próximo domingo, para quem eventualmente se interessar, a segunda e terceira partes desta abordagem para demonstrar a relação entre a vegetação, em particular das árvores de grande porte, e a origem fascinante das chuvas de que é feito o nosso sangue, suor e lágrimas.
imagem: Vladmir Polikarpov