Por Washington Luiz de Araújo, jornalista
Desde criança via cicatrizes no abdômen do meu pai. Eram várias manchas em alto relevo, para mim, parecidas com o mapa do Brasil. Mais tarde fiquei sabendo por ele que aquilo eram sequelas de ácido sulfúrico. Na década de 50, meu pai, Luiz Otávio de Araújo, trabalhou numa empresa química e foi lá que ele adquiriu estas manchas, graças ao ácido que caía em seu corpo. A empresa não fornecia nenhum tipo de equipamento de proteção.
Segundo meu pai, passavam uma pomada e o trabalho continuava. E isso não era considerado acidente de trabalho.
Meu pai faleceu em 2012, aos 83 anos, mas naquela empresa ele só trabalhou durante uns dois anos.
Depois desta experiência, foi trabalhar por conta própria, dizendo que jamais trabalharia como empregado.
Cumpriu a palavra. Fico pensando: seria em razão do maus tratos sofridos na tal empresa?
Infelizmente, pelo que leio, a situação não melhorou para os trabalhadores, pois o Brasil é um dos recordistas em acidentes de trabalho.
Leia abaixo a matéria da CUT “No Brasil, a cada 48 segundos um trabalhador sofre acidente e um morre a cada 4h”. Tristes números que só aumentaram desde a década de 50 quando meu pai ficou marcado com as cicatrizes do descaso do patronato.