Por Pio Redondo, Facebook –
A delação de Palocci. A mídia fez a festa mas, objetivamente, o depoimento que está na web é repleto de contradições evidentes. Basta ouvir com atenção.
E quando não há contradição, restam afirmações, sem provas. Objetivamente.
Mesmo assim, Moro teve o que desejou, induziu o delator mais de uma vez, e vai certamente condenar Lula com penas maiores nos próximos julgamentos. A mídia vai festejar de novo.
Palocci chegou a afirmar que a Odebrecht não teve vantagens nos oito anos dos governos Lula, apesar da amizade de Lula com Emilio, o pai do clã.
O delator disse que a Odebrecht teve seus grandes pleitos negados nos governos Lula e Dilma.
Por exemplo:
Contou que a empreiteira queria construir duas hidroelétricas no Rio Madeira [porque já havia feito os projetos] com uma “vontade incontrolável”, mas que a então ministra da Casa Civil, Dilma, se opôs fortemente à essa pretensão para evitar concentração – e Lula acatou a posição da ministra. A empreiteira perdeu.
“Dilma liderou um embate muito forte com a Odebrecht, que resultou na Odebrecht ter perdido a segunda licitação e ganhou a primeira com um preço muito ruim, do ponto de vista do mercado muito baixo”.
Segundo ele, temendo Dilma, a empreiteira teria proposto o tal “pacto de sangue” de 300 ou 200 milhões, um termo mais voltado a alimentar manchetes.
Palocci contou que ficou chocado com a oferta de Emílio Odebrecht porque esse não era o relacionamento da empreiteira com governo Lula. Disse que até o próprio Lula ficou surpreso.
Ou seja, se a conversa que ele não testemunhou fosse verdadeira – 300, 200 milhões à disposição de Lula e do PT para gastos futuros – mesmo assim ele atesta que em oito anos de governo Lula não se tratou de temas semelhantes.
Atribuindo a fala a Lula, Palocci reproduziu a Moro: “Ele só fez isso porque tinha muito receio da Dilma, porque ele nunca tratou de recursos comigo”. Se o diálogo fosse verdadeiro, Palocci deu uma informação importante para o juiz.
Se o diálogo não ocorreu, é palavra contra palavra.
Palocci ainda contou que em 30 de dezembro de 2010, Emilio sacramentou o oferecimento em reunião com Dilma e Lula, na qual ele também não estava presente. Como soube? “Lula me contou”. Oras. Contou?
[detalhe: no depoimento anterior a Moro, ainda online, Palocci disse que foi Marcelo quem ofereceu 200 milhões a ele, pessoalmente, mais de uma vez. Que ele rechaçou, mas o assunto chegou a Lula, que o chamou para explicações. Contou que ficou mal na história perante o presidente, que não condenou o ato de Marcelo. Agora mudou a versão]
Na sequência, Moro perguntou qual o ganho para a Odebrecht com a oferta.
“Não havia um ganho específico, a Odebrecht atuava nas hidrelétricas, na Petrobras”.
E aí? A Odebrecht era, até então, uma das maiores empreiteiras do mundo, já desde antes de 2002. As licitações foram canceladas pelo TCU ou órgão congênere? Só a Odebrecht atuava nas obras federais, quando o PIB quadruplicou?
Moro complementou a fala de Palocci sem perguntar “seriam favorecimentos quando surgissem oportunidades” e Palocci concordou com a indução com um “é”, mas dizendo que não havia ‘pauta de desejos’. Oras.
Moro insistiu em perguntar qual seria um negócio futuro em decorrência do “pacto de sangue”.
Palocci disse que a Odebrecht queria um aeroporto de peso durante as concessões do governo Dilma, mas perdeu todos os três ofertados no primeiro lote – Guarulhos, Brasília e Campinas.
Perdeu? E os milhões todos?
“Ela [Odebrecht] tinha muito desejo de ganhar o de Campinas, e ela perdeu”. E ainda recorreu do resultado na Anac e perdeu de novo. Oras.
Segundo ele, Dilma acalmou Marcelo dizendo que seriam contemplados no próximo lote, o que ocorreu, com a Odebrecht vencendo a licitação do Galeão.
A manobra, segundo Palocci, é que o edital continha uma cláusula que impedia que as empresas vencedoras do primeiro edital concorressem no segundo. Insinuou que foi um direcionamento, e Moro ficou feliz.
“E isso foi colocado a serviço da Odebrecht, então”, induziu Moro, a que Palocci assentiu com a cabeça, repetindo literalmente a frase.
Peraí, mas minutos antes ele mesmo disse que a Odebrecht perdera a segunda hidrelétrica do Rio Madeira por forte oposição de Dilma, que não permitia concentração econômica.
Então por que a cláusula do segundo edital de aeroportos não se destinava, apenas, a evitar concentração?
Como ministra das Minas e Energia, Dilma refez toda a regulação do setor elétrico brasileiro, e sob muita pressão de multinacionais do setor elétrico, impediu que a empresa geradora de energia fosse também a transmissora, e essa segunda foi impedida de ser a distribuidora, como nos governos FHC.
Essa era a tônica das concessões, justamente para evitar a concentração. Fácil de provar.
Há outras coisas que beiram ao ridículo: a Odebrecht investiu fortunas no Proalcool, programa que Lula incentivava. Oras, é claro que incentivava.
Carros subsidiados para impulsionar a cadeia produtiva e o emprego seriam movidos a quê? A Odebrecht foi a única investidora?
E tem mais de Palocci, mas em benefício do PT e Lula: o governo e o PT votaram contra benefícios fiscais para conglomerados, apesar de forte pressão das empresas, a que Mantega não se dobrou.
Mas o Congresso aprovou. Que Congresso? Oras.
Então Moro pergunta se Mantega pediu 50 milhões para Marcelo Odebrecht, como está na denúncia do MPF e de Janot, para aprovar o Refis da crise, em 2011.
Palocci diz que ouviu a confirmação de Marcelo Odebrecht, aquele que se opunha a Dilma, que travava as pretensões do empresário guloso. Ê? Ouviu desse cara é prova?
Sobre a corrupção na Petrobras:
Segundo Palocci, Paulo Duque e outros indicados foram nomeados pelo Conselho da Petrobras, que ele participava como ministro da Fazenda, “por currículo, nada premeditado”.
Segundo ele, a corrupção cresceu “paulatinamente” porque a empresa aumentou seu patrimônio em dez vezes.
Lula sabia, perguntou Moro? O próprio Palocci disse contou a Lula, em 2007, e que Lula esqueceu do assunto por causa da descoberta do pré-sal. Contou mesmo? Como saber, provar?
Por fim, Palocci disse que numa reunião no Palácio, com Gabrielli, Lula ordenou diretamente ao ex-presidente da Petrobras, descrito por Palocci como muito correto, que conseguisse recursos dos contratos da Petrobras pra financiar a campanha de Dilma. Oras, quem comprovaria tamanha insensatez de Lula? Grabrielli já negou.
E já não tinha os supostos 300, 200 milhões? Oras.
Palocci ainda disse que Marcelo Odebrecht mentiu ao dizer ter separado 35 milhões para Lula, dos supostos 300, ou 200 milhões do “pacto”. Não faria sentido, não precisava, só se fosse da contabilidade dele. Mas teve 300, 200 milhões à disposição?
Do acervo presidencial, Palocci afirmou que não tem valor monetário, e que Lula não tratou do assunto por falta de tempo, pedindo que ele cuidasse com Okamoto e Marisa.
Acervo, museu e instituto são doações que as empresas podem fazer. Como o IFHC, Moreira Sales ou qualquer outro.
Sobram o apto do Guarujá, sítio de Atibaia, apto de São Bernardo, e aí existem as versões conhecidas.
Por que a mídia não se dá ao trabalho?
Palocci deu a Moro o que ele queria ouvir. Vai ser a base para condenar Lula mais outras vezes.
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