Por Adriana do Amaral, jornalista
Acompanhar as manifestações infantis sempre me emocionam. Em casa ou nas ruas, elas surpreendem com as suas observações, perguntas e respostas simples, diretas, sinceras. Tocam-me, particularmente, quando, acompanhadas pelos pais, avós, irmãos mais velhos, participam das passeatas, mobilizações e lutas populares.
Coincidentemente, conversando com duas avós, intelectuais que não se conhecem e vivem em Estados diferentes do Brasil, ambas relataram vivências com os netos. Elas estão sendo desafiadas pelas perguntas geradas pelo conservadorismo nas próprias famílias e escolas.
Ou seja, as crianças também presenciam a dualidade e são impactadas pelo embate político, principalmente nessa reta final das eleições presidenciais. Ao mesmo tempo que alimentam-se da desinformação transmitida, protegem-se com o antídoto natural: a checagem da informação pelo questionamento próprio dessa fase de crescimento.
Quando a escola ensina algo, elas vão ouvir o outro lado, em casa; quando pais afirmam, elas conferem a verdade com os avós e assim a dialética acontece. As lições são aprendidas assim, pela troca freiriana cotidiana.
As crianças vivenciam a oportunidade da dúvida e essas avós assumiram a responsabilidade de não doutrinar, evitando gerar novos conflitos a serem vivenciados pelos netos. Elas instigam a reflexão, nem sempre com a aprovação de pais e até mesmo o convívio escolar. Lições reais, geracionais.
Nos casos relatados a mim as perguntas eram sobre Lula. Vovó, ele é ladrão? Por que ele foi preso? Ele é mal? Vovó, por que essas pessoas moram na rua? Vovó, por que os pais dos meus colegas votam no outro candidato? Vovó, por que só eu e outro coleguinha gostamos do Lula? Vovó, por que em casa pensam de um jeito e na sua casa de outro?
Felizmente, para as minhas amigas militantes da esquerda e sonhadoras de um mundo mais justo, como disse uma delas:
Viva o (vou omitir o nome, mas o leitor pode inserir o nome do próprio neto/filho aqui), que não é Maria vai com as outras!