Publicado em Carta Capital –
Cinco investigados na Lava Jato teriam citado o presidente da Câmara; CVM investiga Cunha em caso que remete ao “mensalão”
A mais recente citação a Cunha na Lava Jato teria sido feita pelo empresário João Augusto Rezende Henriques, preso na semana passada pela Polícia Federal na 19ª fase da Lava Jato. De acordo com reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, Henriques afirmou ter depositado dinheiro de propina de uma obra da Petrobras em uma conta na Suíça pertencente a Cunha.
Apontado como lobista do PMDB, Henriques não citou a data ou o valor depositado, mas disse que o dinheiro era fruto de um contrato firmado pela estatal no Benin, país africano. Ainda de acordo com o empresário, ele não tem relações com Cunha e não sabia, quando fez o depósito, que o deputado federal era o titular da conta. Henriques só teria obtido essa informação há dois meses, quando suas contas foram bloqueadas na Suíça em meio às investigações da Lava Jato.
O lobista seria o quinto investigado na Lava Jato a citar o deputado federal do PMDB.
O doleiro Alberto Yousseff, o primeiro a fazer acordo de delação premiada com as autoridades, acusou Cunha de pedir dinheiro para viabilizar a construção de navios-sonda da Petrobras. Julio Camargo, ex-consultor da Toyo Setal, confirmou a história contada por Yousseff e disse que o valor da propina a Cunha era de 5 milhões de dólares. As falas de Yousseff e Camargo basearam a denúncia por corrupção e lavagem de dinheiro contra Cunhafeita em agosto pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
O repasse milionário a Cunha teria sido confirmado por Fernando Soares, o “Fernando Baiano”, outro apontado como lobista do PMDB. Segundo a Folha de S.Paulo, no depoimento prestado à força-tarefa no âmbito do acordo de delação premiada que assinou, Baiano detalhou os pagamentos a Cunha por conta dos navios-sonda.
Na semana passada, foi a vez do ex-gerente da Petrobras Eduardo Musa envolver Cunha nas investigações. Segundo O Globo, ele teria afirmado que o presidente da Câmara era o responsável por dar a “palavra final” nas nomeações da diretoria Internacional da Petrobras.
Cunha, a CVM e o “mensalão”
Fora da Lava Jato, Cunha também encontra dificuldades. Segundo revelou o jornal Folha de S.Paulo, Cunha é um dos 37 investigados pela Comissão de Valores Mobiliários, que apura de maneira sigilosa irregularidades cometidas no mercado financeiro contra o Prece, o fundo de pensão dos funcionários da Companhia de Água e Esgoto do Rio de Janeiro (Cedae).
Segundo o jornal, a CVM acusa Cunha por ter “se beneficiado de negócios realizados em seu nome intermediados pela corretora Laeta DTVM”. Os negócios teriam gerado perdas para o Prece e ganhos para determinados clientes, entre eles Cunha, cujo “lucro indevido” teria sido de 900 mil reais entre 2003 e 2006.
Segundo o jornal, Cunha tinha forte influência política no fundo de pensão da Cedae no período em que os desvios teriam ocorrido. Controladora do Prece, a Cedae tinha como presidente Aloísio Meyer, indicado para o cargo por Cunha, graças à aliança que tinha, naquela época, com a então governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Garotinho, e seu marido, o ex-governador Anthony Garotinho.
Em entrevista na segunda-feira 28, Cunha disse que não falaria sobre o caso, por se tratar de algo “muito antigo”, sobre o qual não teria memória.
De fato, o caso é antigo, e remete ao esquema do “mensalão”, que condenou diversos políticos, entre eles José Dirceu (PT), ex-ministro da Casa Civil no governo Lula.
Em dezembro de 2005, a mesma Folha de S.Paulo mostrou que um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) indicava que distribuidoras de títulos obtiveram lucros milionários contra o Prece e estavam ligadas ao esquema de repasses de Marcos Valério, condenado no “mensalão”, a partidos políticos. Cunha se notabilizou nos trabalhos da CPI dos Correios, que investigava a corrupção, por batalhar para que o Prece fosse retirado das investigações.