As empresas de mídia têm direito divino a verbas multimilionárias da publicidade estatal?

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Publicado no Diário do Cento do Mundo – 

As empresas de mídia têm direito divino ao dinheiro da publicidade do governo federal?

Você pode ser levado a pensar isso, se ler as repercussões a uma alegada declaração de Rui Falcão sobre o tema.

Quer dizer: a sociedade está condenada a subsidiar eternamente as famílias Marinhos, Civitas, Frias etc, segundo este raciocínio cínico e anticapitalista.




Entre os colunistas fâmulos dessas corporações, parece ser este o entendimento.

Entende-se apenas por um motivo: o emprego deles depende desse dinheiro. E de outras mamatas feitas com recursos públicos: compra de assinaturas, compra de livros, financiamentos em bancos estatais a juros negativos, complacência no Imposto de Renda e por aí vai.

Para você ver como é torta essa discussão, considere o seguinte. Alguém reclamou, nos anos Aécio em Minas Gerais, da destinação das verbas publicitárias governamentais? Um só colunista fâmulo disse que era inaceitável não colocar anúncios em órgãos críticos a Aécio?

Numa democracia, quem vence a batalha dos votos tem certos direitos, e isso não deve ser esquecido.

Um deles é nomear ministros do STF. FHC nomeou, sem ser questionado, Gilmar Mendes, cuja simpatia militante pelo PSDB foi reconhecida publicamente até pela jornalista Eliane Catanhede.

Outro é dispor dos recursos da publicidade.

A real discussão, aí, é se faz sentido o governo gastar tanto em propaganda. Nos anos do PT, as despesas publicitárias virtualmente dobraram.

Como praticamente todo o dinheiro vai para as grandes empresas, só elas lucraram com isso – sobretudo diante do fato de que suas mídias, as tradicionais, são todas elas declinantes.

A Globo perdeu um terço da audiência no período, e mesmo assim continua a levar cerca de 500 milhões de reais por ano.

Até o SBT de Sheherazade, uma emissora de segunda ou terceira linha que não produz nada que eleve o espectador, tem sido agraciado com 150 milhões de reais ao ano.

Entendo, e já escrevi, que o mais sensato, para o governo, seria partir de um orçamento base zero em propaganda e, cuidadosamente, refletir sobre cada investimento.

Do ponto de vista lógico, é um erro investir pesadamente em mídias que caminham para o cemitério na Era Digital – como revistas, jornais e, como se sabe agora, televisão, aberta ou paga.

As companhias jornalísticas têm que aprender a desmamar dos seios públicos.

A dependência em que elas vivem gera situações perigosas para toda a sociedade.

A cada eleição, elas se empenham loucamente por colocar no poder alguém – como Aécio – que vá manter todos os privilégios, e talvez até aumentá-los.

Ricardo Kotscho, que trabalhou no primeiro governo petista, atribui a raiva da Veja de Lula ao fato de Roberto Civita não haver sido atendido numa reivindicação por mais publicidade federal.

Sim, os donos das empresas jornalísticas não se envergonham de passar o pires em Brasília em momentos de necessidade.

O que não faz sentido é atendê-los obsequiosamente.

Que sejam capitalistas. Que deixem de mamar. Que façam como Murdoch.

E que não recorram a colunistas fâmulos para defender seus interesses indefensáveis.

Sobre o Autor: O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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