As meninas de Ibiúna – I

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A juventude rebelde dos anos 60 inscreveu sua utopia no panteão de nossa História. O resgate da memória é um dos pilares na educação das novas gerações.

Por Joáo Teixeira, compartilhado do Site Contratempo




Em meados do século 20, a educação dos filhos representava pesados encargos materiais e espirituais. No auge da Guerra Fria, no mundo polarizado entre o capitalismo dos EUA e o socialismo da URSS, não havia meio termo. Os educadores eram desafiados por ideias, a Revolução dos costumes, hábitos e comportamentos que modificavam padrões e impunham um esforço sobrehumano na educação.

A reflexão em torno dos desafios do magistério, naquela época e nos dias que correm, vem a calhar neste dia 15 de outubro, Dia do Professor, os heroicos mestres destes tempos obscuros.

Estávamos diante de um desafio continental: um terço da Humanidade vivia sob o socialismo, na URSS, China, Cuba. Gramsci: “nenhuma sociedade se impóe tarefas cuja solução não existam condições necessárias e suficientes, ou, pelo menos, não estejam em vias de aparecer e desenvolver”. Desta forma, bem ou mal, ocupamos nosso espaço revolucionário.

A violência castradora do golpe civil-militar em 1964, contra a arte, a cultura, a ciência e a educação pavimentou a trilha da insurreição. A cobra mordeu o próprio rabo. Começou com perseguições, prisões, torturas e cassações dos direitos políticos dentro dos próprios quartéis, alvejando soldados, cabos e sargentos (os baixa-patentes), suboficiais e generais legalistas, nacionalistas e esquerdistas que se opunham á derrubada do presidente João Goulart.

Todos inimigos do novo regime militar-burocrático, conservador, aliado do capital estrangeiro – EUA á frente – que sufocou as liberdades internas.

Os primeiros núcleos de críticas ao “pacifismo” do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que não reagiu ao golpe, foram criados quase instantaneamente no interior das bases políticas nos cursos que compunham as faculdades da USP, na Rua Maria Antônia, no centro paulistano.

Em poucos meses, alastraram-se para os núcleos de outras universidades e faculdades autónomas em todo Estado de São Paulo.
Os mestres e alunos progressistas do ensino secundário e superior plantavam as sementes da luta armada contra os militares golpistas e opressores. A radicalidade da época se impôs no comportamento geral. Não havia mais partidos políticos nem espaço de atuação democrática.

O idealismo, o voluntarismo, o anseio transformador na sociedade semi-feudal, patriarcal e caduca, encarregaram-se do resto. A História traça seus próprios caminhos – muitas vezes por linhas tortas.

No início de 1965, na Conferência Estadual Universitária, consagrou-se a posição de esquerda no interior do PCB. Isso passou a ser um polo de atração para outros setores partidários que compartilhavam a mesma visão política, a resistência armada. Os EUA arrastaram o Brasil a compor as “forças de paz” na invasão de S.Domingo, como já haviam tentado – em vão- fazer na Guerra da Coreia e do Vietnã.

As tarefas prioritárias da juventude resistente eram as de reestruturar o movimento estudantil, a partir dos centros académicos, da União Estadual dos Estudantes e da UNE. A denúncia da violência e dos desmandos militares. A defesa da gratuidade e da autonomia da Universidade. A solidariedade e apoio aos perseguidos políticos.

O Comitê Central do PCB ensaiou sua autocrítica ao golpe em meados de 1965.

A “setembrada” do movimento estudantil, em 1966, inspirou-se na luta dos palestinos. O “racha” de Marighella, em 1967, deixou nítidos os contornos do que estava por vir. A luta armada começou em 1968 no ascenso do movimento de massas. Greves de agricultores no Nordeste. Greves de trabalhadores nos principais centros metalúrgicos de São Paulo (Osasco) e de Minas (Betim). Formidáveis manifestações de protestos dos estudantes em todo País desencadearam as primeiras ações armadas nas grandes cidades.

Nossa utopia era acreditar que, no final do século 20, haveria um reino de amor e felicidade, de paz, sem guerras, com o florescimento sem precedentes das artes e da ciência. Na Era do Conhecimento, as pessoas iriam valer pela inteligência e a capacidade intelectual. A força feminina desempenhou um importante papel nos anos de chumbo, como mostraremos em números na próxima coluna. “Pedimos encarecidamente que não considerem normal aquilo que sempre acontece” (Brecht).

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