Por Natália Becattini, compartilhado de 360 Meridianos –
A saudade chegou ao Brasil com os portugueses e por aqui ficou, ajudando-os a definir a falta que sentiam de casa. Assim como todos aqueles que vieram do outro lado do Atlântico, foi emaranhando-se e tecendo suas teias por essas terras, a ponto de se tornar tão nossa quanto a feijoada, a capoeira e o carnaval. Desde sempre aprendemos que a saudade é a joia mais rara da língua portuguesa. Um sentimento carregado de abstração e poesia, a ponto de não ser possível expressá-la em outra língua.
O termo saudade vem do latim “solitas”, que significa “solidão” ou “desamparo”. Isso explica aquele sentimento de abandono que a gente sente quando não se pode recuperar aquilo que nos faz falta, de estar sozinho faltando uma parte. Do dicionário: “sentimento de mágoa e nostalgia, causado pela ausência, desaparecimento, distância ou privação de pessoas, épocas, lugares ou coisas a que se esteve afetiva e ditosamente ligado e que se desejaria voltar a ter presentes”. Embora não exista em outro idioma uma única palavra capaz de designar esse turbilhão de sentimentos, em todos a saudade se faz sentir.
Em galego, sente-se morriña, saudade da terra natal. Em basco, herri-mina, a dor de estar longe de seu país, algo parecido ao que se sente em francês, mal du pays, em inglês, homesickness, ou em alemão, sehnsucht ou heimweh. Em alemão também se sente fernweh, um anseio por lugares distantes, saudade daquilo que você nunca viu.
E, como o espanhol talvez seja a língua materna da poesia, se extraña a falta de alguém. Em romeno, outra língua românica, a definem como dor: Mi-e dor de tine, “minha dor de ti”. Em turco, a palavra hüzün denota a melancolia gerada por um sentimento de perda profunda. Já em catalão temos a mais próxima, enyorança, pena ou sofrimento pela ausência, pela perda de alguma coisa ou de alguma pessoa.
A saudade fala de pessoas, lugares e situações. Mas nenhuma saudade é mais verdadeira que a de casa. Daquela receita que sua mãe preparava na infância. Da vista da janela do quarto. Das tardes passadas com pessoas que já não voltam mais. De atividades tão prosaicas quanto sentar-se naquele banco de praça e conversar com os amigos. Porque qualquer pessoa que já esteve longe por muito tempo sabe que nenhum banco de praça será igual ao da nossa esquina. E esse sentimento é universal.
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