Compartilhado de Jornal GGN –
Chamado de “cafetão da miséria” por extremistas de direita, Lancellotti reafirma que prefere estar ao lado dos mais fracos, e propõe ações que poderiam virar políticas públicas
Jornal GGN – “A população de rua não é um fenômeno em si mesmo”, diz o padre Julio Lancellotti. Ela existe – e em São Paulo capital, beira o contingente dos 30 mil desabrigados – em função das desigualdades sociais. Não existe “luz no fim do túnel” que não passe por uma reforma urbana, pelo acesso ao emprego e a emancipação dessas pessoas. Foi o que Lancellotti defendeu durante a live [assista ao final] que o grupo Prerrogativas fez na manhã deste sábado (19).
“Outro dia um assessor de candidato me perguntou o que eu sugeriria de imediato” para enfrentar a questão da população de rua, comentou o padre. “Eu sugeriria uma renda mínima municipal.”
“A renda mínima poderia começar com mulheres com criança em situação de rua, depois casal com criança, porque essa população, terminando o auxílio emergencial [pago pela União durante a pandemia do novo coronavírus], vai aumentar.” Além das ruas, “há muita gente em ocupações”, comentou.
“A questão da população de rua é interligada com outras questões. Para ter luz no fim do túnel, precisamos resolver a questão da reforma urbana, o acesso à moradia e o acesso ao trabalho. A
população de rua não é um fenômeno em si mesmo.”
Lancellotti afirmou que além da renda emergencial, as prefeituras deveriam facilitar o acesso à locação social. “São Paulo tem mais casa sem gente que gente sem casa.”
Ele lembrou que os abrigos não são a solução, porque são espaços totalmente burocratizados que “tutelam” a vida do moradores de ruas, em vez de criar condições para sua autonomia. Hoje uma pessoa inserida nessa estrutura institucional “custa” cerca de R$ 1,5 mil para os cofres públicos por mês.
Se essa verba fosse transformada em renda mínima, por exemplo, a pessoa poderia pagar em parte pela moradia e alimentação, e “viver com mais autonomia” do que nos abrigos. Estes locais, aliás, na visão do padre, deveriam ser substituídos por “pequenas repúblicas, essa é a resposta.” Espaços onde não há regras como horário para comer e dormir, impedimento contra animais de estimação, dificuldade de aceitação das pessoas trans e falta de infraestrutura e higiene, relatou.
“A população de rua é muito heterogênea. Temos que ter muitas pequenas respostas, e não poucas e grandes. Essa é a chave para as chamadas políticas públicas.”
DESPEJOS
Julio Lancellotti aproveitou a live com o Prerrogativas para fazer um chamamento aos profissionais de Direito, para que entrem na luta para impedir as reintegrações de posse durante a pandemia. “O que a emergência sanitária mudou na reintegração de posse? Nada!”, reclamou, lembrando que é um momento de crise em que mais pessoas passaram a morar em ocupações pois não têm trabalho ou recursos para viver de aluguel.
Lancellotti também deu outra ideia aos juristas: sugeriu que os espaços da OAB, sindicato dos advogados, entre outros, instalem estruturam permanentes para oferecer água potável à população em situação de rua.
Os advogados firmaram o compromisso de tirar as sugestões do plano das ideias.
DO LADO DOS OPRIMIDOS
O padre também reafirmou suas convicções na defesa dos mais vulneráveis. Sobre as críticas que vem recebendo de extremistas de direita como Arthur do Val, que o chamou de “cafetão da miséria”, de forma depreciativa, Lancellotti se demonstrou aberto ao diálogo.
“Eu não preciso destruir quem não pensa igual a mim”, disse. “Mas o que eu quero é sempre estar do lado do pequeno”, e não dos “poderosos”, acrescentou. “Eu não quero estar do lado de quem ganhou.”
Assista: