Por Marcelo Biar, Professor demitido da Universidade Estácio, Facebook
Depois de 11 anos de trabalho na Universidade Estácio de Sá, ontem fui demitido. Demitido junto com mais 1.200 colegas. Estas demissões são reflexo das reformas, principalmente a trabalhista, que assolam este país.
Sim, o golpe não é uma abstração. Ele se materializa na carne do povo. E assim está sendo.
A Estácio que nunca escondeu seu compromisso maior com o lucro, adere a “nova era” com requintes de maldade. Busca as novas relações de trabalho. Aquelas que precarizam o trabalho e aumentam o lucro.
Saio, contudo, com a cabeça erguida. Tomado por boas lembranças de tudo e tanto que construí com meus alunos e muitos colegas. Saio com a certeza de que, apesar da instituição chamar a todos de “colaborador”, sempre fui um trabalhador.
Nunca me prestei a “colaborar” com esta empresa. Pelo contrário, sempre me coloquei como profissional. Sempre cumpri o nosso contrato sem, com isso, corromper minhas convicções.
Assim, dei aula com extrema assiduidade e com a maior competência possível. Tanto quanto, nunca abri mão da construção de relações dialógicas e da construção da consciência crítica, no espaço acadêmico.
Orgulho-me disso. Orgulho-me de, em tempos de “escola sem partido”, ter levado a discussão sobre o golpe, para sala de aula. Sou um educador, não posso negar a história.
Orgulho-me de jamais ter silenciado diante das injustiças. Nunca fiz das minhas aulas o espaço da alienação. Ao contrário, sempre tomando partido, fiz delas um espaço de resistência a todas as práticas que nos oprimem.
Saio com a sensação do dever comprido. E não me refiro a ter sido, apenas um bom profissional. Me refiro a ter a certeza de, ao longo destes 11 anos, ter contribuído para a formação de muitos que, agora profissionais, sofrem mas reagem ante o golpe que nos assola e as históricas injustiças da nossa sociedade. Depois de 11 anos sei que contribuí para a formação, não apenas de novos colegas, mas de companheiros que lutam por uma outra sociedade.
Pois é, numa sociedade tão desigual como a nossa, trabalhar é fazer acordo com quem nos oprime. Repito, saio feliz. Em meu acordo cumpri exatamente o combinado. Eles me pagaram e eu trabalhei.
Nunca incluí minhas convicções no pacto com… “eles”. Na Estácio foram 11 anos, mas de profissão são 28 e de luta, nem sei contar. Saio da Estácio, não da vida. E vida é luta. A Estácio, camaradas, é só um forte braço do sistema/golpe que nos oprime.
A luta que se trava com ela o fazemos por entender que assim lutamos contra o todo. Lamento minha demissão, mas lamento ainda mais a demissão dos 1.200. Lamento o avançar do golpe que nos retira direitos tão básicos.
Sigamos. Quem sempre esteve junto, tenho certeza, estará mais ainda. Os tempos exigem. Como diria o comandante Guevara, “sejamos o pesadelo daqueles que não nos deixam dormir”!