As Rosas da Avenida

Compartilhe:

Por Lourenço Paulillo, poeta e cronista

É um desafio falar da Avenida Paulista.Tem muito pra ver, curtir, aprender. Muita história pra reviver. É amor à primeira vista. Seja pessoa daqui ou turista.




Era caminho de chão de terra em meados do século XIX. Por onde circulavam boiadas. Tendo ao redor verdes chácaras. Ao cantar da passarada

Foi Joaquim Eugênio de Lima. Com olhar de engenheiro, de artista. Que idealizou a avenida. Que seria das Acácias, ou Prado de São Paulo. Mas, afinal, Avenida Paulista.


Ao findar do século XIX surgiram as primeiras mansões e líderes da indústria, do comércio,
Dos fazendeiros do café, como a Baronesa de Arary.


Vindos de lugares tão variados. Assim também o estilo de seus projetos,
Neoclássico, art-nouveau, mourisco, florentino. Quase à chegada do século XX. É inaugurado o Parque Trianon, projeto do paisagista Paul Villon.


Garantia de preservação. A Mata Atlântica sobreviveria, em meio à cidade que crescia.
Chegamos a 1900, com ele os primeiros bondes elétricos percorrem toda a avenida.
2.800 m de extensão.


Década e meia depois, surge o Belvedere Trianon. E o novo sistema de iluminação elétrica.
Novo ponto de encontro da elite.

Na segunda metada do século XX. Início da grande transformação: a Paulista empresarial. A primeira Bienal Internacional. O Conjunto Nacional. O MASP atual.

Que deixou sua sede original, da Rua 7 de abril. Fundado por Assis Chateaubriand.
Calçadões. Grandes inovações. Vai longe o tempo dos lampiões.


A grande artéria da Capital. Torna-se vasto polo cultural. Além de industrial e comercial.

Do Sesc e seu mirante, avista-se toda a sua extensão. Dos topos dos edifícios. Ao ritmo efervescente do chão.


A Japan House, impecável presente do Japão à cidade. O Itaú Cultural, com muito da história do Brasil. Em seus pisos superiores e no momento Machado de Assis na Ocupação.


A Fiesp/Sesi, com seu amplo teatro e espaços de exposição. O Instituto Moreira Salles, focalizando os ícones da fotografia. E muito mais que nem cabe aqui.


Mas voltando a ressaltar o MASP, a grande estrela da Paulista, ousado projeto da arquiteta Lina Bo Bardi, com seus imensos pilares vermelhos, em que as obras de tantos eternos artistas convivem harmoniosamente, flutuando sobre o incrível vão livre. A paixão de Lina e de Pietro Maria Bardi.


Aos domingos, festa na avenida: inúmeras pessoas degustando todo o espaço, as famílias com as crianças e os cães, música ao vivo a cada canto, para todos os gostos.
E palco de viradas de ano, paradas e manifestações políticas e sociais.


Mas agora faço uma pergunta:
Alguém sabe me dizer quem são Wedding Bells, Stuttgardia, Parole, Souvenir de Baden, Jubile du Prince de Monaco? São as belas rosas…as rosas do jardim…do jardim da Casa das Rosas.

Da avenida tão amada, a casa mais linda. Agora minuciosamente restaurada. Não quero fazer um arremedo. Mas também eu devo ressaltar o talento de Ramos de Azevedo


Engenheiro arquiteto que a construiu. Assim como o Theatro Municipal. O Mercado Municipal.
O Liceu de Artes e Ofícios, hoje Pinacoteca. O Palácio das Indústrias, Azevedo construiu para sua família morar, o que ocorreu por 51 anos, de 1935 a 1986.


Desapropriada em 1991, foi tombada como patrimônio cultural e reinaugurada em 2004 como Espaço Cultural Haroldo de Campos de poesia e literatura, em homenagem ao poeta concretista.

A Casa está nova, branca reluzente, com toda a beleza ressurgida. Dos pisos ao papel de parede original. Com sua vista para o roseiral.


Perdão se tudo conhecem. Me sinto impulsionado a repetir. Caso não tenham encontrado novidade, basta o perfume das rosas voltar a sentir. Ele está sempre renovado, à sua espera.

Notas:

  • Baseado em minhas constantes andanças pela Avenida Paulista, do começo ao fim e de volta ao começo, e ainda pela atual exposição sobre a história da Avenida, em cartaz na Casa das Rosas, bem como nas roseiras do seu jardim;
  • Hoje decidi escrever, não fui andar na Paulista;
  • Dedicado à minha turma original da EAESP/FGV, ao completar 51 anos de formatura

Lourenço Paulillo, novembro de 2023

Nota do Editor, Washington Araújo: ao viajar neste belo texto do Lourenço Paulillo pela Avenida Paulista, ouso acrescentar esta música da qual gosto muito.

Paulista, música Eduardo Gudin e J.C. Costa Netto, gravada por Vania Bastos em 1990. Vídeo de quando a cidade completou 460 anos, em 2014.

O Bem Blogado precisa de você para melhor informar você

Há sete anos, diariamente, levamos até você as mais importantes notícias e análises sobre os principais acontecimentos.

Recentemente, reestruturamos nosso layout a fim de facilitar a leitura e o entendimento dos textos apresentados.
Para dar continuidade e manter o site no ar, com qualidade e independência, dependemos do suporte financeiro de você, leitor, uma vez que os anúncios automáticos não cobrem nossos custos.
Para colaborar faça um PIX no valor que julgar justo.

Chave do Pix: bemblogado@gmail.com

Tags

Compartilhe:

Categorias