Por Lourenço Paulillo, cronista e poeta
Passamos a vida ouvindo e admirando os belos versos do Cartola, que dizem:
“Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas
Que bobagem, as rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai…”
Agora os cientistas, após anos de pesquisa, vêm nos afirmar que sim, as rosas falam. As rosas e todas as outras plantas e flores. Até nos apresentaram as vozes dos tomates e das uvas, para exemplificar.
Embora como seres humanos não consigamos ouvi-las, podemos dar asas à imaginação e brincar de adivinhar.
O que teriam respondido as rosas ao Cartola?
Talvez…”Não chore ainda não, que eu tenho um violão, e nós vamos cantar”, roubando os versos de Chico Buarque.
E o que teria respondido a rosa à Dolores Duran, quando ela diz:
“Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem”?
Acho que, em sua vida tão breve, a rosa se sentiria extremamente honrada ao ser escolhida para estar ao lado da eternidade de uma estrela. Ou quase, já que as estrelas também morrem.
Na Modinha, o Sérgio Bittencourt quer roubar a rosa pequenina que está espreitando na janela, para dá-la à primeira namorada. Será que a rosa não diria: Eu já sou comprometida?
E quando está “chovendo na roseira”, as rosas, sem guarda-chuva, poderiam dizer à frondosa árvore ao lado: “Hei, amiguinha, estenda seus galhos sobre nós!”.
Assim, a Rosa do Pixinguinha viveria conversando com os beija-flores. E a rosa amarela do Capiba diria ter ciúme da rosa vermelha.
O que teria dito o cravo à rosa quando brigaram? Deve ter sido bem ofensivo, pois ele até ficou doente e ela pôs-se a chorar. Ou quem sabe disse apenas que seus perfumes eram conflitantes.
Enfim, ao saber da novidade
Dá muita curiosidade
De entender, pela primeira vez
O que conversam vocês.
Que falará o pé de café ao de maracujá?
Qual o melhor aroma?
Ou a alta laranjeira
Com a rama da abóbora rasteira?
Quer uma escada?
E o.pé de maçã,
Que dirá ao de romã?
Quem é a mais bela?
Tudo isso quer saber Rosinha, filha da Rosa,
Ela é muito curiosa.
E a mãe, toda perfumada,
Prefere ficar calada
Pois não é bisbilhoteira
É muito recatada.
E nós, sem conseguirmos ouvi-las, como saberemos?
Será inglesa a rosa chá?
Que dizem as rosas brancas ao saudar Iemanjá?
Será que sorriem nos casamentos? Choram nos velórios?
Se pudéssemos ouvi-las, saberíamos se emitem um som de felicidade ao perceber que seus frutos maduros são colhidos para saciar a fome e a sede, e que poderão tornar-se sucos, vinhos, doces.
Ou ouviríamos seus lancinantes gritos de dor ao verem se aproximar a motosserra ou o machado.
Se fosse possível ouvi-las
A gritar e a chorar
Com tanta devastação
Da Natureza incompreensão
Em vez de continuar desse jeito
Haveria mais respeito.
Mas quero voltar às rosas, para um final mais otimista.
O que responderiam as rosas ao Caymmi, que as elogiou tanto, mas confessou que elas também o confundiam:
“Rosas formosas
São rosas de mim
Rosas a me confundir…”.
Certamente não responderiam. As rosas são misteriosas.
Citações:
Cartola, As rosas não falam;
Chico Buarque, Olê Olá;
Dolores Duran, A Noite do meu bem;
Sérgio Bittencourt, Modinha;
Pixinguinha e Otávio de Sousa, Rosa;
Villa Lobos, O Cravo brigou com a rosa/Ciranda no. 4;
Capiba e Carlos Pena Filho, A Mesma rosa amarela;
Tom Jobim, Chovendo na roseira;
Dorival Caymmi, Das Rosas.
Capa do post: capa do livro A Rosa e o Poeta do Morro, escrito por Janaína de Figueiredo e ilustrado por Paulica dos Santos