Por Lourenço Paulillo, poeta e cronista
Para meu querido neto Gustavo, que estava completando 11 anos no dia em que fiz este texto, 19 de junho de 2022.
Samambaias, avencas, uma velha cadeira de balanço, uma rede…não podem faltar nas varandas.
Na varanda nos refrescamos nas tardes quentes de verão e nos abrigamos quando cai a garoa, silenciosa.
Na varanda tilinta o sino dos ventos, que alguns dizem atrair prosperidade, outros espantar os maus espíritos.
É na varanda que os cães e os gatos dormem juntos, irmanamente.
Da varanda nos encantamos com o balé dos beija-flores e é lá que o sabiá vai fazer seu ninho no início da primavera.
Na varanda embalamos o filho pequeno, inquieto, até que ele se acalme.
E é lá que relemos o bilhete amarelado, amoroso, de alguém querido que partiu, o que ao mesmo tempo nos aquece e entristece.
Da varanda os pais acenam para o filho que parte para estudar na cidade, sem disfarçar as lágrimas. Mas de lá sorriem ao vê-lo retornar, tempos depois.
Na rede da varanda adormecemos e sonhamos, realizando os planos difíceis de concretizar. E ainda na rede viajamos e nos perguntamos: por que nunca procuramos saber de nossos pais como teria sido a infância de nossos avós, que não chegamos a conhecer. Como seriam os dias de Lorenzo e Giulia lá em Turim? De que brincavam? Como era a escola? Onde o avô aprendeu o ofício de tipógrafo?
E em Amalfi, como era a infância da menina Anna? Quem a ensinou a tocar piano? E como o avô Domenicantonio, em Castellabate, aprendeu a confeccionar sapatos? E pensar que os dois vieram a se conhecer em São Paulo.
Na varanda despertamos e sentimos o perfume das rosas e dos jasmins, e vêm à lembrança as tias que com carinho os cultivavam.
Enfim, é na varanda que revemos o filme de nossa vida, repleto de emoções.
É da varanda que avistamos o horizonte, o suave perfil das colinas verdes de relva, com seus altos cupinzeiros, as corujinhas buraqueiras pousadas nos mourões da cerca, os insetos rodeando as flores das laranjeiras, as andorinhas migratórias, as nuvens em seu lento ou apressado movimento, o colorido majestoso do pôr do sol, o surgir da lua e das primeiras estrelas.
E é na varanda que confraternizamos. Amigos, está saindo um fumegante café e um bolo de fubá. Vamos nos abraçar, vamos nos aquecer e agradecer esse momento simples e precioso da vida, a ficar gravado na memória, registrado na varanda.
Nota do editor, Washington Araújo: Foto da casa dos amigos Rafael e Lourival, em Paquetá. Morada que bem define a varanda citada pelo Lourenço Paulillo. Na foto, Rafael e a minha companheira Carmola.