Em 1964 eu tinha (menos de) dois anos, era um bebê, e não sabia de nada;
Por Adriana do Amaral, compartilhado de seu Blog
Aos 12 anos, adolescente, fui a única aluna da turma do ginásio a saber quem era o presidente da República à época -um militar, com nome esquisito- e parabenizada pela diretora, por “honrar a escola” frente aos convidados externos que fizeram a pergunta;
Com 22, eu já era jornalista e outra realidade havia sido desvelada. Eu tinha consciência do “passado infeliz da nossa história”.
De lá para cá, quanta luta para que a verdade fosse dita, para que os brasileiros fossem resgatados do conto do vigário, ops, história da carochinha, ops mentira dos militares.
Eles disseram que foi revolução, o golpe militar.
Eles criaram a narrativa de que a “ordem e progresso” havia sido instaurada no Brasil, quando na verdade foi a tortura e a morte.
Olhando para trás, para o nosso passado recente, ainda me surpreendo como não sabíamos de nada, como não tínhamos consciência…
Nos meus primeiros 17 anos de vida eu morei no interior de São Paulo e não convivi om os verdadeiros heróis brasileiros, que sucumbiram à violência institucionalizada…
Aos poucos, fui descobrindo que os livros não contavam a verdade, “conhecendo” aqueles que ousaram lutar por uma sociedade melhor.
São tantos, os que sucumbiram e os que resistiram.
Ainda hoje choro com a história de #EunicePaiva, que precisou seguir em frente, educar os seus filhos e antes de morrer conseguiu, enfim, o atestado de óbito do marido, #RubensPaiva, desaparecido num mar de mentiras sem fim contadas pelos que deveriam zelar pela pátria livre.
Sinto na pele, como se fora possível, a “dor insuportável” narrada pela ex-presidenta #DilmaRousseff, presa e torturada entre os seus 19 e 21 anos, sem nunca delatar os seus companheiros que como ela viviam o pesadelo real pelas mãos dos atrozes carcereiros/carniceiros nos porões? não, nos quartéis e delegacias do Brasil. Dilma resistiu para nos contar.
Celebro #ClaraCharf, viúva de #Marighella, que não viu a idade passar e continua na trincheira pela liberdade.
Penso em #AnaMariaPrestes, tão jovem, tão fundamental para a democracia brasileira nos dias de hoje honrando o legado de sua família.
Imagino em que Brasil viveríamos se #PauloFreire, #Betinho, #DarcyRibeiro, #VladimirHerzog, #Santo Dias e milhares de brasileiros não tivesses sido expulsos e vivido tanto tempo no exílio…
Orgulho-me ainda de #IvanValente, agradeço a #DomPauloEvaristoArns, só para citar um estudante e um religioso dentre um número desconhecidos de heróis anônimos.
Nunca esquecerei das valas abertas do cemitério Dom Bosco, em Perus, bairro de São Paulo, onde as ossadas deixadas como restos comuns provaram parte do quebra cabeça de horrores dos mandos e desmandos dos militares.
Neste 31 de março não acredite em inverdades.
É preciso lembrar para não esquecer,
é preciso recontar a história,
é urgente punir os militares que mentiram para a sociedade brasileira.
#torturanuncamais
#1964foigolpe
#semanistia