A força da lei resolveu, mais uma vez, efetuar um desconto no massacre realizado em Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro.
Por Walter Falceta, compartilhado de Construir Resistência
Pelos menos 8 das 25 vítimas fatais não foram mortas por ninguém. Quem foi socorrido pelo próprios moradores não entra na conta sinistra dos exterminadores.
É um procedimento comum, mas que se tornou padrão nos serviços de eliminação massiva encomendados ao Estado, desgovernado por Claudio Castro.
O que ocorre na cidade coração do Brasil causaria indignação em qualquer país civilizado do mundo. Aqui, não. O presidente parabeniza os autores da chacina.
Silenciados, os trabalhadores enterram seus mortos e prosseguem na lida da sobrevivência. Aqui e ali, espoucam tímidos e opacos protestos na Internet, e nada mais.
Nenhum “auê” na Câmara Municipal, nada na Assembleia Legislativa e quase coisa nenhuma na Câmara Federal.
Direita e esquerda convergem para invisibilizar as vítimas, definidas previamente como “bandidos”. Mesmo as vítimas colaterais da ação acabam desconsideradas, porque ao negro se nega o status de cidadão e a própria existência.
O Rio de Janeiro já foi a cidade com a maior população escravizada da história humana, superando Roma em seu período de maior poder.
Entre 1500 e 1856, de cada cinco pessoas no mundo que foram escravizadas, uma foi levada ao Rio de Janeiro. Um estudo minucioso da Universidade de Emory, em Atlanta, revela que cerca de 2 milhões de escravos chegaram à cidade.
Poucos desses seres humanos escravizados ganharam pleno acesso aos direitos da cidadania, mesmo depois da Lei Áurea, assinada em 1888. O resultado é uma cidade desigual, cruel e que, vez por outra, recorre a equipe de extermínio para reduzir os contingentes de excluídos sociais.
Essa é a realidade. É a realidade que matou Marielle, Evaldo e Ágatha. E que serve de lucrativo negócio paralelo aos soldados vivendeiros. Pobre povo do Rio. Pobre povo do Brasil. Assassinados como anônimos. Assassinados por ninguém.