Por Rubens José da Silva para Brasil 247 –
Ou a presidente Dilma impõe logo sua agenda ou continuaremos vendo a democracia correr sérios riscos
Pelo espírito altamente belicoso dessas eleições, em que o confronto mais ameno já se iniciava aos xingamentos, pode-se até dizer que surpreendeu a resignação dos derrotados após a divulgação da vitória de Dilma Rousseff. Embora a grande imprensa tenha encorajado um exército de enlouquecidos a executar o holocausto petista, os eleitores de Aécio acataram o resultado como natural do jogo democrático.
A frustração desses restringiu-se a retirar a propaganda do carro, deixar a cerveja na geladeira para outra ocasião e se entrincheirar na internet e descarregar todo ódio e preconceito acumulados em anos de bombardeio midiático. Até aí, tudo bem.
Porém, quando o PSDB, em conluio com o Estadão, surge com o esdrúxulo questionamento da lisura das urnas, o bando de aloprados que já havia se recolhido volta a espumar no canto da boca. Era a fagulha suficiente para os incendiários de plantão confrontar a ordem democrática. Mais uma vez a grande imprensa acendendo o pavio da insensatez.
A manifestação na Avenida Paulista, no último sábado, foi uma pequena amostra da imensa loucura que pode germinar de tanto ódio plantado. Filhotes da (des)informação de mão única, guiados por uma mídia sem a menor responsabilização pelos seus atos, clamavam por uma intervenção militar, pelo impeachment de Dilma, enfim, por qualquer atalho que possa livrá-los da “corja do PT”.
A direita desavergonhada e golpista, liderada pelos grandes grupos de comunicação, pressentindo que, mantido o curso normal democrático, Lula é o grande favorito a voltar à presidência em 2018, tenta a todo custo usurpar o poder que cabe ao povo brasileiro.
Daí que, às favas com os escrúpulos e a civilidade, articulam abertamente o que podem para retomar o que lhes foi negado nas urnas. Só enxergam uma solução: a instauração do caos. Vão esticar o quanto puderem essa corda para quando arrebentada possam legitimar o golpe branco.
Não encontrando condições, continuarão fazendo a presidente sangrar até a próxima eleição. Essa velha tática, apesar das sucessivas derrotas do PSDB, já mostra grandes resultados. Depois de 12 anos ininterruptos de notícias negativas, sempre associando o PT à corrupção, o governo vai se tornando indefensável.
Ou a presidente Dilma impõe logo sua agenda, aproveitando o grande apoio que teve das forças progressistas reunidas em torno de sua candidatura, e regulamenta a mídia, como em todas as nações civilizadas, ou continuaremos vendo a democracia correr sérios riscos.
Nota: A Globo News transmitiu ao vivo, e na íntegra, o discurso de Aécio Neves no Senado, atropelando toda a programação. Por cerca de 30 minutos a democracia foi insultada. A reação é de total perplexidade com tamanha audácia da emissora que parece dar posse ao derrotado, enquanto a presidente eleita não tem um centésimo de tempo para se defender. Com esse absurdo desequilíbrio, fica impossível a manutenção do estado democrático.