Por Maria Inês Nassif em Jornal GGN –
Não sei se um coração chora, mas a tristeza hoje é tanta que se torna lágrima, uma chuva de lágrimas, uma tempestade. É uma ventania da tristeza que atravessa o país, no momento em que Marisa Letícia, morta, ainda não conseguiu morrer de fato. O seu cérebro cansado foi antes, cheio de dor, de sangue, de mágoas. Calou-a. Não fosse o cansaço, talvez ainda ela pudesse dar um sorriso, dizer um palavrão, contar uma história, proteger a prole; e ameaçar inimigos com a promessa de cuidar do marido para que ele, forte por seu cuidado, os enfrente de peito aberto. O último sopro de vida de Marisa Letícia se foi. Os aparelhos ainda seguram os tique-taques do coração, por pouco tempo. Mas o tique-taque não é mais a vida de Marisa Letícia.
Em dezembro, Marisa, num jantar entre amigos, fez um brinde realista: não a dias melhores, mas à força que deveríamos ter para enfrentar dias ainda mais negros. “Não serão dias fáceis”. Minutos adiante, comentando a perseguição ao ex-presidente Lula, disse que os perseguidores não iriam conseguir matá-lo. Ela não deixaria. “Eu vou cuidar dele e ele vai morrer velhinho”. Uma profissão de amor e fé no marido.
Não serão dias fáceis os que nos esperam e Marisa Letícia não estará ao lado de seu companheiro. Mas terá deixado o seu recado: por piores que os dias sejam sem a sua presença, Lula deverá ter forças para lutar e vencer seus adversários. Ela cuidará disso, de onde estiver. E, mais tarde, conseguirá, de lá, brindar a nós, que ficamos para trás, e a dias melhores. Tintim, dona Marisa. A dias mais serenos, mais felizes e mais justos, que um dia virão. E que teríamos gostado de compartilhar com você.