Atuação de Bolsonaro em Manaus é crime de responsabilidade, diz Edinho Silva

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Compartilhado de Ópera Mundi – 

Prefeito de Araraquara falou sobre as estratégias de contenção da pandemia na cidade, hoje com a menor letalidade por coronavírus do estado de São Paulo

No programa 20 MINUTOS ENTREVISTAS desta sexta-feira (30/04), o jornalista Breno Altman entrevistou o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), cuja gestão de combate ao novo coronavírus se tornou referência em todo o Brasil.

Durante a conversa, o prefeito classificou a gestão do presidente Jair Bolsonaro frente à pandemia como genocida e disse que “sua atuação em Manaus caracteriza crime de responsabilidade”.

“Com todo o sistema de vigilância que há em Manaus, é impossível que o Ministério da Saúde e, portanto, o presidente, não tenham sido notificados sobre o que estava acontecendo, sobre a existência de uma nova variante. Se o governo já sabia, como que não deu celeridade para o processo de vacinação, como não deu comandos de ampliação de leitos, de aceleração na produção de oxigênio, de aceleração na produção dos medicamentos necessários para intubações?”, questionou.

Pelo contrário, Silva reforçou que o governo descredenciou leitos do Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo. “Se isso não é crime de responsabilidade, eu não sei o que é”, disse.

O prefeito espera que a CPI do genocídio olhe para a gestão de Manaus e veja a “omissão do governo federal, do que poderia ser evitado apenas interpretando o que as pesquisas já vinham dizendo e impedir que o povo brasileiro morresse sem assistência médica”.

“Se isso vai ser suficiente para um processo de impeachment, eu não sei”, argumentou. Ele revelou não considerar ideal retirar o presidente por meio de um processo de impedimento.

“Pela consolidação da democracia, acho que ele deveria sair pelo voto, para dizer que foi o povo que o rejeitou e não o Congresso”, defendeu.

‘Em Araraquara, temos folga de leitos’

Muito diferente da gestão do governo federal foi a gestão da Prefeitura de Araraquara no combate ao coronavírus. A cidade chegou a ter a menor letalidade pela doença no estado de São Paulo e a terceira menor taxa de letalidade a nível nacional.

Silva detalhou as estratégias tomadas para que, hoje, Araraquara tenha “folga de leitos”, estando há 60 dias sem filas para internações, condições que possibilitaram, inclusive, que a cidade recebesse pacientes de outras regiões do interior paulista.

“Não existe manual de enfrentamento de pandemia. Temos um sistema de saúde muito bem organizado, que funciona, mas nem essa estrutura funcionando dava para dizer que a cidade estava preparada para enfrentar a pandemia”, ponderou.

Reprodução
Prefeito de Araraquara, Edinho Silva, falou sobre as estratégias de contenção da pandemia na cidade

Por isso, ele disse que a Prefeitura começou a debater estratégias em março de 2020, antes mesmo de que houvesse casos na cidade, para ter tempo de prever o impacto da pandemia e estruturar as medidas de contenção adequadas.

Silva contou que foram reunidos profissionais da saúde, professores e pesquisadores da área, e os diretores clínicos dos hospitais da região. “Montamos comitês, um que se reúne semanalmente e outro diariamente, para pensar estratégias. A partir disso, estruturamos nossa campanha em cinco semanas para quando chegassem os primeiros casos”.




Em Araraquara foi instalado um sistema de testagem rápida para conter as taxas de contágio, foram criadas equipes de consulta domiciliar para acompanhar pacientes positivados do grupo de risco cujos sintomas não requeriam internação hospitalar e foram montados comitês de solidariedade para dar segurança alimentar e suporte às famílias vulneráveis.

Toda essa estrutura segue ativa, ressaltou o prefeito. “E, mesmo assim, em janeiro de 2021 tivemos problemas por causa da nova cepa de Manaus”, admitiu.

Por causa disso, Araraquara instaurou o fechamento total da cidade, inclusive proibindo a abertura de supermercados e tirando o transporte público de circulação.

“De repente as nossas taxas de contágio não paravam de aumentar. Analisamos as amostras e vimos que era a nova cepa. Imediatamente olhamos para Manaus, para tomar as medidas em cima dos acontecimentos de lá. Ampliamos leitos, fomos atrás de indústrias produtoras de oxigênio e de cilindros de envasamento de oxigênio, buscamos estocar os medicamentos necessários para as intubações e colocamos Araraquara em fase vermelha, que já é muito restritiva, e mesmo assim a média móvel de casos só subia”, relembrou o prefeito.

Diante desse cenário, não havia outra alternativa a não ser parar todas as atividades que aglomerassem minimamente a população. “Lockdown não é algo que você escolhe fazer, ele se impõe. Os nossos hospitais iam colapsar, então não havia outra saída”, afirmou.

Araraquara foi a única cidade brasileira a realizar um fechamento completo, mantendo apenas farmácias e unidades de saúde funcionando. Silva contou que conseguiram manter os supermercados fechados durante seis dias, impedindo a circulação do transporte público durante dez. O resto dos estabelecimentos seguiram fechados por mais tempo.

“É uma medida dura e difícil, mas que dá resultado. Tivemos uma queda de 74% na média móvel de contaminados e de 78% no número de óbitos”, comemorou.

Eleições de 2022 e um novo governo de esquerda

Araraquara talvez seja o maior exemplo que desacredite o negacionismo disseminado por Bolsonaro, na opinião de Silva. Para ele, o presidente se aproveita da baixa escolaridade do povo e do negacionismo ideológico de certas camadas para promover suas opiniões, não apenas contra a pandemia, mas racistas, machistas, homofóbicas e conservadoras em geral, “criando um grupo unido em torno dessas ideias, seja por ignorância ou por ideologia”.

Por isso, ele acredita que as eleições de 2022 serão polarizadas entre Lula, “se ele for candidato”, e Bolsonaro. “Mas o presidente está sangrando e se ele encolher muito, vai abrir espaço no centro para o surgimento de outra candidatura”, previu.

Diante da possibilidade de que um novo governo de esquerda retorne ao poder, Silva defendeu que a prioridade deverá ser compreender as novas necessidades do país e os “novos anseios da população”.

“Acredito no legado dos governos Lula e Dilma. Temos que voltar a discutir um país que democratize oportunidades – passando pelas nossas bandeiras tradicionais -, valorizar a democracia, tendo a sensibilidade de enxergar os novos desafios”, justificou.

Nesse sentido, ele acredita que convocar uma Assembleia Constituinte é prioridade, juntamente com uma “revolução educacional”, pois não basta mais melhorar as condições da população sem formar cidadãos.

“A gente gerou ascensão econômica, mas não mudou o pensamento das pessoas. Com isso, vimos a facilidade com que as conquistas dos governos Lula e Dilma foram desfeitas. Desta vez, precisamos de uma transformação mais profunda”, reiterou.

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