Compartilhado de Jornal GGN –
Um agravamento da crise deixará claro a incapacidade de Guedes em continuar com a agenda de privatizações. Isso, mais o caos previsível, aumentará as pressões por mudanças radicais
O início da vacinação pode esperar algum ânimo no mercado. Mas não se iluda. O país está no início de uma fase de grandes definições. Nos próximos meses, o quadro político será fortemente afetado pelos seguintes fatores:
1. Ingresso definitivo em um período de estagflação. Continuam os aumentos nos preços ao produtor, devido ao câmbio e às exportações. Na ponta do consumo, o fim da ajuda emergencial derrubando definitivamente o consumo e impedindo o repasse dos custos aos produtos.
2. Crise social sem precedentes, com milhões de pessoas atrás de trabalho e de recursos para necessidades básicas. É questão de tempo para começar a pipocar saques em supermercados.
3. Agravamento da crise sanitária, pela incompetência aguda do governo Bolsonaro. Há um fato novo relevante. Conforme revelou ontem o GGN, em entrevista com o procurador da República em Manaus, Igor Spindola. O Ministério Público Federal apurou que, na véspera do dia em que acabou o oxigênio na cidade, alguma autoridade suspender os vôos da FAB com oxigênio para a cidade. Tem-se, aí, o primeiro caso objetivo de imputação de crime às autoridades da saúde. E a comprovação definitiva da incapacidade do general Pazuello em coordenar a vacinação do país.
Segundo diagnóstico do MPF de Manaus, a substituição, no Ministério da Saúde, de funcionários experientes por militares sem conhecimento da matéria, é a principal causa do caos que tomou conta das políticas de saúde.
Tem-se, então, o seguinte quadro:
O governo Bolsonaro é sustentado pelo apoio instável de três poderes: Congresso, Forças Armadas e Supremo Tribunal Federal.
A cooptação das Forças Armadas se dá com a distribuição ampla de empregos a militares da reserva e da ativa. Ao Congresso, com a distribuição de cargos. O Supremo Tribunal Federal reflete o poder de pressão do mercado e da mídia. Nesse caso, a moeda de troca são os negócios da privatização, assegurados pela permanência de Paulo Guedes no cargo de Ministro da Economia.
Mas há fatos novos no ar, capazes de abalar essa aliança.
O mais ostensivo será o agravamento da crise social, devido às políticas erráticas de Paulo Guedes e a segunda onda do Covid no mundo, impedindo a recuperação da economia mundial.
O segundo caso é a intensidade da segunda onda que, ao que tudo indica, desta vez baterá direto nas classes média e alta, com a ocupação dos leitos de UTI em hospitais privados. Tudo isso tendo como contraponto as manifestações diárias de Bolsonaro e a incrível incompetência operacional de Pazuello.
Um agravamento da crise deixará claro a incapacidade de Guedes em continuar com a agenda de privatizações. Isso, mais o caos previsível que se terá pela frente, aumentará as pressões por mudanças radicais que imponham uma freada de arrumação na crise.
Com Bolsonaro e Guedes, será impossível se pensar em qualquer reversão de expectativas