Aumento de sepultamentos em SP acende alerta para avanço da COVID-19

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Por Andre Accarini, compartilhado do Portal da CUT – 

Número de enterros na cidade de São Paulo dobrou nos últimos dias. Sindicatos dos Municipais reforça necessidade de equipamentos de segurança e treinamento de trabalhadores frente aos perigos do coronavírus

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Cemitério de Vila Formosa/SP –  MANOEL NORBERTO PEREIRA/SINDSEP

Os cemitérios da cidade de São Paulo, cidade mais afetada do país tanto em número de casos confirmados como no total de vítimas fatais do novo coronavírus (Covid-19), mudaram a rotina de trabalho e serviços por causa do aumento de sepultamentos nos últimos dias. Somente no Vila Formosa, maior cemitério da América Latina, o número de valas aberta por dia passou da média de 45 para 100.




À medida em que o contágio e as mortes provocadas pela doença aumentam, a situação no sistema funerário piora e as dificuldades são muitas. O Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep-SP) aponta como principal preocupação a falta de treinamento dos trabalhadores contratados – foram 220 – para atender à demanda e a falta de equipamentos de segurança.

“Esses funcionários estão fazendo o trabalho sem nenhum preparo, nenhuma experiência. Não sabemos o quão perigoso é o vírus após o óbito, mas imaginamos porque os caixões são lacrados, e a falta de uma luva e de uma máscara pode resultar na infecção de mais uma pessoa, e depois mais outras, e assim por diante”, denuncia Manoel Norberto Pereira, diretor do Sindsep-SP.

Segundo o dirigente, se a demanda continuar a crescer, a situação se tornará ainda mais delicada. Ele explica que há procedimentos importantes a serem seguidos tanto no sepultamento quanto na exumação de corpos.

“A simples falta de uma luva pode ser um erro fatal nessa hora”, diz Manoel.

O Sindsep-SP exige da Prefeitura de São Paulo, que haja capacitação e treinamento adequado para os agentes sepultadores do Serviço Funerário Municipal e para trabalhadores terceirizados. Também a garantia de entrega permanente de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados e dentro das normas da ANVISA.

Em nota divulgada na tarde desta sexta-feira, a Prefeitura anunciou que o serviço conta com oito mil litros de álcool em gel e que serão disponibilizados mais seis mil por mês. Também anunciou que está prevista a chegada de três mil macacões e 84 mil máscaras de proteção

Para o Sindsep, o Serviço Funerário vem finalmente a público dar explicações, mas exige que seja publicado diariamente o número de sepultamentos e quantos desses são suspeitos ou confirmados de COVID 19.

João Batista Gomes, diretor Executivo da CUT e secretário de Imprensa e Comunicação do Sindsep-SP, diz que “espera que a quantidade seja suficiente. Caso não seja, o sindicato manterá a orientação de que, se faltar materiais, haverá paralisação dos serviços até o fornecimento”.

Redirecionamento

A exumação de corpos, que habitualmente ocorre após três anos do sepultamento, foi suspensa e segundo o sindicato, todos os trabalhadores foram redirecionados para a abertura de covas.

Os enterros das vítimas diagnosticadas com Covid-19 estão sendo direcionados para cemitérios específicos, o que, na avaliação de Manoel Norberto, é um equívoco, por causar superlotação nesses cemitérios. Para ele, seria necessária uma melhor organização para atender à possível demanda causa pela pandemia.

Uma das questões a serem levadas em consideração é a hipótese de a pandemia tomar proporções severas e não haver espaço para sepultar as vítimas. O dirigente do Sindsep-SP afirma que há dúvidas sobre a capacidade.

“Se tomarmos como exemplo a Itália, onde o número de habitantes é menor e o país teve dificuldades, o Brasil, por suas dimensões, vai enfrentar problema graves”, ele diz.

Ele cita o Vila Formosa. “Tem espaço, mas ao mesmo tempo, se faz uma base pelo tamanho da população brasileira. Se for muito grande, a situação vai se complicar”, destaca Manoel.

Dados

Segundo informações do Sindsep, obtidos pelos dirigentes diretamente com os trabalhadores, somente no cemitério Vila Formosa, localizado na Zona Leste de SP, no dia 31 de março, última terça-feira, foram 57 sepultamentos. Outros 42 mortos foram enterrados no São Luiz, na Zona Sul da cidade.

A direção do Serviço Funerário de São Paulo foi procurada para esclarecer dúvidas e atender às reivindicações da categoria, mas não respondeu.

João Batista Gomes, do Sindsep-SP, reclama da dificuldade no acesso aos números para que se chegue a um parâmetro mais exato da situação e a partir disso, possa ser traçado um plano de ação para dar conta da demanda.

“É importante saber o número oficial de óbitos pelo coronavírus a partir do serviço funerário. Nosso levantamento foi feito junto aos trabalhadores. Queremos, inclusive, comparar os dados com os números oficiais de mortos divulgados pela Secretaria de Saúde”, diz.

A imagem que não quer calar

Uma imagem aérea feita do Vila Formosa mostra uma enorme quantidade de covas abertas. A foto foi parar na capa do Washington Post em uma reportagem que crítica Bolsonaro. A legenda da foto diz: “Muitos países do hemisfério sul que demoraram a responder ao novo coronavírus intensificaram seus esforços, mas o presidente do Brasil chamou o surto de seu país de ‘uma fantasia’”.

“Bolsonaro ainda não conseguiu enxergar que estamos em uma guerra. Tem gente morrendo. E a forma como ele se coloca é a voz do mercado, dos pobres indo trabalhar, mesmo que tenham que morrer para manter a economia dos mais ricos”, diz Manoel.

O dirigente ainda afirma que se houver no Brasil um agravamento pior do que em países como a Itália e a Espanha, a culpa será do governo, que promoveu um desmonte dos serviços públicos no país, reduzindo recursos e cortando investimentos de setores fundamentais, como a saúde.

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