Ausência em evento internacional sobre o clima expôs a ‘irrelevância do Brasil’, diz especialista

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Compartilhado de Sputnik News – 

A nova meta climática apresentada pelo Brasil ao Acordo de Paris, na última terça-feira (8), permitirá ao país chegar ao ano de 2030 emitindo 400 milhões de toneladas de gases do efeito estufa. A Sputnik Brasil falou com o ambientalista Sérgio Ricardo para entender as consequências desta decisão.

Diante das recentes declarações do ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que também condicionou a antecipação das metas de emissão zero do Brasil caso o país receba uma verba bilionária de outras nações, a Sputnik Brasil falou com o especialista Sérgio Ricardo, um dos fundadores do coletivo Baía Viva e professor convidado da Fundação Oswaldo Cruz.




Sérgio Ricardo entende que houve um desmonte da política ambiental no Brasil a partir da gestão de Ricardo Salles, em 2019. “Foram extintos os conselhos, que eram espaços de participação social e do diálogo com a comunidade científica. Hoje, as decisões passam basicamente apenas pelo ministro do Meio Ambiente”, afirmou.

Por esta razão, ele acredita que há uma “boiada passando” no que diz respeito ao desmonte das estruturas de combate do desmatamento, como Ibama e ICMBio, assim como uma flexibilização das leis para garimpeiros e madeireiros.

​De acordo com a nova meta climática apresentada pelo Brasil ao Acordo de Paris, na última terça-feira (8), o país pode chegar a 2030 emitindo 400 milhões de toneladas de gases do efeito estufa a mais do que o previsto na meta original.

“O Brasil entrou no Acordo de Paris, em 2015, de uma forma muito ousada. Naquele momento, foi apresentado também um plano de combate ao desmatamento pelas queimadas”, afirmou o ambientalista.

Rastreamento por satélite mostra aumento das queimadas na Amazônia
ANTONIO SCORZA/AFP Rastreamento por satélite mostra aumento das queimadas na Amazônia

Neste contexto, Sérgio Ricardo aponta para o fato de que a maior responsável pela emissão de gases carbono no Brasil são as “queimadas da Amazônia, principalmente, mas também da caatinga e do serrado brasileiro”. Segundo ele, relacionado a este problema, ainda “enfrentamos a expansão ilimitada do agronegócio. Mesmo durante a pandemia, essas atividades de desmatamento não cessaram”.

Para o ministro Ricardo Salles, a meta anunciada no dia 8 de dezembro foi ambiciosa. Sua posição a respeito das mudanças climáticas ficou evidente no último encontro da COP 25. Na ocasião, ao fim do evento, ele afirmou: “Países ricos não querem abrir seus mercados de créditos de carbono. Exigem medidas e apontam o dedo para o resto do mundo, sem cerimônia, mas na hora de colocar a mão no bolso, eles não querem”.

​Sérgio Ricardo discorda deste entendimento. De acordo com ele, o Brasil é atualmente motivo de chacota internacional. “Um país que se colocou como sede da Eco 92, depois da Rio+20, e que sempre teve um protagonismo importante, hoje é motivo de uma vergonha internacional”.

“Os impactos destas políticas ambientais sobre a sociedade brasileira incidem sobre a saúde pública, devido à poluição atmosférica, e sobre a economia, cujo motor são as commodities. No mercado internacional, produtos originários de áreas desmatadas, de áreas com criminalidade ambiental, acabam sofrendo perdas nesse processo de comércio exterior”, avaliou o ambientalista.  

Após o anúncio das medidas de Salles, diversos países reagiram. O governo brasileiro ficou de fora do evento on-line preparatório para a COP 26, marcada para 2021, que aconteceu no último sábado (12). Organizado pelo Reino Unido, o encontro previa a fala de 77 chefes de Estado. O governo brasileiro estava confirmado, mas foi cortado.

Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em seu gabinete em Brasília
© FOLHAPRESS / PEDRO LADEIRA Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em seu gabinete em Brasília

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), os palestrantes foram escolhidos entre aqueles que apresentaram maiores ambições nas NDCs (também conhecida como uma contribuição nacionalmente determinada). Questionado pela Sputnik Brasil sobre a ausência brasileira na conferência, o deputado estadual e ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc falou “vexame internacional”.

“Bolsonaro foi excluído deste evento por duas razões. Primeiro, por suas práticas de aumentar os desmatamentos, queimadas e agressões aos índios. Em segundo lugar, o Brasil piorou suas metas. Jogou compromissos de 2050 para 2060. Maquiou os dados, e revisando a base de 2012, na verdade, ele quer produzir mais 400 milhões de toneladas de CO2”, concluiu o deputado.

Para Sérgio Ricardo, “os países que organizaram o evento demonstraram a irrelevância do Brasil dentro do jogo internacional. Principalmente no que diz respeito às políticas de combate às mudanças climáticas. Essa decisão demonstra que a comunidade internacional está atenta e vigilante das arbitrariedades cometidas pela gestão deste governo”.

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