Balanço Comercial em 2023: Recorde Histórico, por Fernando Nogueira da Costa

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As exportações em 2023 subiram apenas 1,7% diante o ano anterior, mas atingiram US$ 339,67 bilhões: o recorde histórico

Por Fernando Nogueira da Costa, compartilhado de GGN




As exportações em 2023 subiram apenas 1,7% diante o ano anterior, mas atingiram US$ 339,67 bilhões: o recorde histórico! As importações caíram -11,7%, no mesmo período, para US$ 240,83 bilhões. O fluxo comercial caiu -4,3%, de US$ 606,75 bilhões para US$ 580,51 bilhões, mas o saldo comercial atingiu o recorde histórico de US$ 98,84 bilhões com variação absoluta de US$ 37,3 bilhões (+60,6%).

Desde 2001, somente nos anos de 2013 (-US$ 8,96 bilhões) e 2014 (-US$ 9,9 bilhões) ocorreram saldos acumulados negativos. 

Cerca de 24% de tudo exportado em 2023 constituíram-se de produtos agropecuários, com a soja e o milho em destaque. Os extrativos responderam por 23% das exportações, com muita relevância de óleos brutos de petróleo e minério de ferro. 

A lista de itens da indústria de transformação, responsável nas estatísticas oficiais por 52% do fluxo de exportação em 2023, não passa, na verdade, de produtos agropecuários e extrativos submetidos a processo superficial de “industrialização”, como o farelo de soja e de carnes, melaços, carne bovina resfriada, óleos combustíveis, celulose, ferro-gusa, lingotes de ferro ou aço, enfim, todos derivados do chamado do chamado setor primário. Na lista dos mais vendidos da indústria de transformação, apenas aeronaves e suas partes são efetivamente vinculados, de fato, somente ao setor industrial.

De 1997 a 2002, produtos dessa “Indústria de Transformação” compunham mais de 80% da exportação brasileira. Foi extraordinário o ganho de participação da Indústria Extrativa ao sair de 6% de participação relativa até atingir o pico de 28,5% em 2021. O Agro teve uma participação média de 8,9% de 1999 a 2008 e, a partir da GCF, demonstra uma tendência crescente saindo de 9,8% em 2008 até 24% em 2023.

Quanto aos produtos exportados, os quatro maiores destaques foram soja (15,7%), óleos brutos de petróleo (12,5%) e minério de ferro e seus concentrados (9%). Os demais foram abaixo do percentual de açúcar (4,6%), mas somados correspondem a 58% da exportação total. 

A mudança da pauta de exportação brasileira fica nítida na tabela acima. Os oito produtos destacadas somavam 23% em 1997 e passaram a representar mais da metade (51%) do total exportado em 2023. A economia brasileira já não é estritamente primário-exportadora, mas sim primário-industrial-extrativa exportadora

Em 1999, a exportação de petróleo bruto e óleo combustível somavam 0,8% do total. Em 2023, atingiram ambos 15,8%, ou seja, 15 pontos percentuais! O Brasil virou também um país exportador de petróleo!

Combustíveis e Lubrificantes participaram com 16% do total, em 2023, conforme a tabela abaixo.  Bens Intermediários mantiveram a média histórica em torno de 2/3 do total exportado de 1997 a 2023

Quanto aos produtos importados, os maiores destaques foram óleos combustíveis de petróleo (7%), adubos ou fertilizantes químicos (6,1%), óleos brutos de petróleo cru (3,9%). O restante soma 83%, ou seja, as importações são muito diversificadas.

Quanto às grandes categorias econômicas dos bens importados de todos os países, bens intermediários representaram 60,7% nas importações totais em 2023 (contra 63,3% em 2022), bens de consumo 13,4% (contra 10,3%), combustíveis 13,4% (contra 16,1%), bens de capital 12,3% (contra 10,3%).

As importações de bens de capital de 1997 a 2023 foram em média 13,6%, sendo nos anos 90 em patamar superior. Acompanha a Formação Bruta de Capital Fixo no país, ou seja, a tendência de queda dos investimentos.

No caso de importação de bens intermediários, a média nesse período foi de 59,5% sem grandes alterações nesses 27 anos. Quanto à importação de bens de consumo, a participação média anual foi de 12,7%, com a única fase abaixo (média de 9,1%) entre 2002 e 2005.

A parcela de importação de combustíveis e lubrificantes ficou em 2023 pouco abaixo (13,4%) da média anual de 14,3% no período 1997-2023. No período de crescimento dos governos social-desenvolvimentista entre 2005 e 2014, ficou acima: em média 17%.

Quanto aos principais destinos das exportações brasileiras foram na ordem: China (US$ 104,3 bilhões com participação de 30,7%), Estados Unidos (US$ 36,9 bilhões com 10,9%), Argentina (US$ 16,7 bilhões com 4,9%), Holanda (US$ 12,1 bilhões com 3,6%), México (US$ 8,6 bilhões com 2,5%), Chile (US$ 7,9 bilhões com 2,3%), Espanha (US$ 7,8 bilhões com 2,3%), Singapura (US$ 7,1 bilhões com 2,3%), Japão (US$ 6,6 bilhões com 1,9%), Canadá (US$ 5,7 bilhões com 1,7%), Alemanha (US$ 5,6 bilhões com 1,7%).

progressiva dependência da exportação brasileira para a China fica nítida na série temporal abaixo com os últimos 27 anos. No ano 2000, saiu do patamar de 2% do total até atingir o pico de 32,4% em 2020, desde o início do século XXI, a média anual passou para 30,3%. O grande salto foi após a GCF de 2008.

Em contrapartida, a União Europeia em bloco importava mais de ¼ da exportação brasileira até o ano 2000 e sua participação relativa caiu para a metade (13,6%), bem como a norte-americana caiu de 25,5% no ano 2002 para 10,3% em 2023. Idem para a Argentina de 13,2% em 1998 para 4,9% em 2023. 

Em compensação, esses quatro destinos continuam mantendo 60% do total. Isto graças à China, destino de 30,7% das exportações brasileiras.

progressiva dependência da exportação brasileira para a China fica nítida na série temporal abaixo com os últimos 27 anos. No ano 2000, saiu do patamar de 2% do total até atingir o pico de 32,4% em 2020, desde então a média anual passou para 30,3%. O grande salto foi após a GCF (Grande Crise Financeira) de 2008.

Quanto às principais origens das importações brasileiras foram na ordem: China (US$ 53,2 bilhões com participação de 22%), Estados Unidos (US$ 37,9 bilhões com 15,8%), Alemanha (US$ 13,1 bilhões com 5,5%), Argentina (US$ 12 bilhões com 5%), Rússia (US$ 8,5 bilhões com 3,8%), Índia (US$ 6,5 bilhões com 2,9%), Itália (US$ 5,4 bilhões com 2,4%), França (US$ 5,1 bilhões com 2,3%), México (US$ 5,5 bilhões com 2,3%), Japão (US$ 5,1 bilhões com 2,1%).

Portanto, o maior parceiro comercial é a China com o fluxo corrente de US$ 155,5 bilhões e o saldo positivo para o Brasil de US$ 51,1 bilhões em 2023. Nos 12 meses do ano anterior, o fluxo corrente foi de US$ 150,2 bilhões e superávit brasileiro de US$ 26,7 bilhões. Representou menos na exportação total (26,8%) e praticamente igual na importação (22,3%).

Os principais produtos exportados para a China foram soja (39%), óleos brutos de petróleo cru (19%), minério de ferro e seus concentrados (18%), carne bovina (5,5%), celulose (3,6%), açúcar (1,6%), carne de aves (1,6%).

Os principais produtos importados da China foram transistores (10%), equipamentos de telecomunicações (6,1%), compostos orgânicos-inorgânicos (5%).

Fonte dos dados : https://balanca.economia.gov.br/balanca/publicacoes_dados_consolidados/pg.html 

*Fernando Nogueira da Costa – Professor Titular do IE-UNICAMP. Obras (Quase) Completas em livros digitais para download gratuito em http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/). E-mail: fernandonogueiracosta@gmail.com

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