Por José Carlos Asbeg, jornalista e cineasta, autor do documentário “1958 – O Ano em que o Mundo Descobriu o Brasil
Os economistas ligados à candidatura de Marina Silva defendem a autonomia do Banco Central brasileiro. Alegam que sem a interlocução política da presidência da República, fica mais fácil implementar as diretrizes, segundo eles, salvadoras, que, segundo eles, resolveriam, segundo eles, a crise econômica do Brasil.
Desde garoto, crise é a palavra que mais ouvi na vida para qualquer coisa do Brasil. E há cinquenta anos Lula e Dilma eram tão adolescentes como eu e não creio que imaginassem ser presidentes do país um dia. Então, a crise não podia ser atribuída a eles, como agora a atribuem, acusando, maliciosamente, a tal crise brasileira de ter começado há exatos doze anos, coincidentemente à posse do primeiro governo do ex-presidente Lula.
É pra deixar qualquer leigo em economia intrigado: se a gravidade da situação vem de tão longe e se eram eles que estavam no poder, não seriam eles os responsáveis pela tal crise?
Não entendo de economia, mas sei juntar 2 com 2 e sei ler. Não me parece uma boa ideia um banco central que não dialogue com o governo de um país. Afinal quem se elegeu com o voto popular foi o presidente ou a presidenta.
E nas suas propostas de governo devem figurar questões programáticas para a economia como forma de priorizar o combate à miséria, trazer a igualdade social, a distribuição de renda e vários outros pontos que exigem um controle firme da economia do país. Aí vem um banco central autônomo e diz que é preciso cortar salários, reduzir programas sociais etc.
A ideia de um banco central independente me lembra a CBF, a Confederação Brasileira de Futebol, que no meu entender deveria ter um D entre o B e o F. Confederação Brasileira que Desgraça o Futebol.
O esporte mais popular do Brasil, este sim, vive uma crise gigantesca, está nas mãos de cartolas que mandam e desmandam, são acusados frequentemente de corrupção, não trabalham para o desenvolvimento do futebol brasileiro, mas o usam para benefício e privilégios próprios. Não sabem ou não se interessam em organizar um calendário equilibrado; não sabem ou não se interessam em valorizar os clubes, que são os que detêm a paixão dos torcedores, arrastam multidões aos estádios, geram negócios com suas marcas; não sabem ou não se interessam, e isto é o mais grave, transformar o futebol em um valor cultural do país.
Para os dirigentes que se aboletam na CBDF o que conta é vender jogos da seleção, encher os cofres da entidade, garantir votos cordeirinhos dos presidentes das federações estaduais e se perpetuar no poder. Não há restrição para reeleição. Maravilha, não é?
Pois o resultado todos vimos no Felipazo contra a Alemanha.
E o que podem fazer a Presidenta da República e seu Ministro do Esporte, para acabar com os desmandos, os desvios? Muito pouco, quase nada, porque a CBDF é autônoma, uma entidade de direito civil apenas regida pela FIFA e por regras próprias, impermeável a entendimentos com a sociedade – como bem sabem os jogadores que criaram o Bom Senso e os parlamentares que batalham pela aprovação de Lei que equilibre as relações entre a CBDF e uma política construtiva para o futuro do futebol brasileiro. Torço e me engajo em qualquer iniciativa que modifique esta triste realidade.
Portanto, pra mim que não entendo de economia, Banco Central independente tem cheiro de CBDF.