Por Washington Luiz Araújo, jornalista –
E lá estão eles: Chico Sabe Tudo, Zebrinha, Gole Grande e Pança, em volta do balcão do Bar do Gervásio, o famoso Gê do fundo da periferia de São Paulo.
O assunto não poderia ser outro: a votação do impeachment para uns, o golpe para tantos, convocado para o domingo. Futebol só veio à baila para reclamarem da antecipação da semifinal do Campeonato Paulista, de sábado para domingo. Aliás, foi aí que o papo esquentou:
– Poxa, domingo é sagrado. É dia de futebol e essa Globo resolve mudar a data por causa desse tal de impeachment – bronqueia o Gole Grande.
– Já falei da outra vez para o Zebrinha e o Gê: não é impeachment, é golpe. Por falar nisso, que palavra mais difícil que é essa, impeachment! Eu que sei tudo, ou quase, tenho até dúvida de como é que se escreve isso – diz o Chico Sabe tudo.
– É, e já que passaram o futebol pro sábado, pergunto: quem vai ganhar, o governo ou o Temer e o Cunha? – , questiona o Zebrinha.
– Sei não, mas a Globo tá dizendo que a Dilma cai. Dá até uns números aí – palpita o Pança.
– “Quem acha vive se perdendo”, já disse o Noel Rosa – cantarola o Sabe Tudo.
– É, mas, às vezes, quem canta a bola ganha – acrescenta o Gole Grande.
– Sim, mas o já ganhou nunca é bom. O cara fica muito convencido e enche o adversário de brios – pontifica o Sabe tudo.
– Brio? O que que é isso? – pergunta um Zebrinha já confuso com os gorós na cabeça.
– Brio é orgulho, vontade, Zebrinha – explica o Sabe Tudo.
– E como eu ia dizendo, o sujeito fica convencido demais com o já ganhou. Quando entra em campo, até parece que não precisa jogar com vontade, pois, na cabeça dele, ele já ganhou. Sabe quando o cara joga parecendo que comeu uma feijoada?
– É verdade. Lembra daquela final em que ninguém acreditava no Coringão, que o técnico do outro time, aquele lá do Porco, disse que ia ganhar e o treinador do Coringão pregou no vestiário os jornais em que o falador dizia já ser campeão? O timão foi lá, entrou em campo, e venceu.
– Sei não, eu lembro do contrário. Era o treinador dos “gambá” que falou muito antes e o porco foi lá e venceu na raça – rebateu o Pança.
– Gente, gente, isso aconteceu com todos os times em várias oportunidades. A empáfia é a mãe da derrota – disse, catedrático, o Sabe Tudo.
– Empada? Eu gosto de empada. Seu Gê, cadê aquelas empadinhas gostosas que a dona Dita fazia?
– Empáfia, Zebrinha, empáfia! Convencimento, arrogância, exibicionismo.
– É, não gosto muito do jogo desse Cunha e desse Temer. O Cunha rouba mais do que cartola e o Temer é traíra. Outro dia ele tava no time a Dilma e agora quer o lugar dela….
– Pois é, só sei de uma coisa: vou tomar umas no domingo e sair pra rua. Nada disso de ficar vendo este negócio na TV. Lá no Anhangabaú vai ter um povão e é pra lá que eu vou. O Sabe tudo desta vez tem razão, não gosto de gente convencida – disse o Gole Grande.
– Seu eu não soubesse das coisas, não tinha este nome, caramba! E tem mais: proponho um brinde.
No que todos entoaram: “Não vai ter gole, vai ter goles!”
Seu Gervásio só balança a cabeça e, já ameaçando fechar o bar, imagina que seu boteco vem bem há uns 13 anos recebendo aqueles malucos, mas que não quer saber de mudança brusca e sem razão justa. Pensando assim, propõe uma rodada para todos e brinda com o já famoso “Não vai ter gole! Perdão! “Não vai ter golpe!. Saúde e paz.