O EL PAÍS foi ouvir alguns analistas para iniciar o debate. Primeiro, opina Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Universidade Estadual de Campinas, a tática não é nova. “Isso tem sido uma arma de todo Governo de inspiração autoritária que deseja impor símbolos à sociedade que ele vai administrar”, afirma Romano. Segundo ele, a prática vem desde a “idade média com a Santa Inquisição da Igreja”, e é uma “tentativa de gerar símbolos que definem uma certa solidariedade e apoio a um Governo que busca legitimidade”. Romano aponta que esta estratégia foi usada “no fascismo, nazismo e stalinismo, com a manipulação de uma pletora de símbolos, que vão de gestos a cores, vestimentas, arquitetura”. “O regime autoritário depende do domínio da imagem e da linguagem. O que vemos no caso Bolsonaro é uma tentativa de passar palavras-chave que definam uma adesão aos novos governantes. É o caso do termo ‘politicamente correto’, ‘o socialismo’, ‘marxismo cultural’ e ‘ideologia de gênero’”, diz.
A efetividade deste discurso simbólico depende da criação de um “inimigo”. “Aí você joga todos os erros e fraquezas para o outro lado, e se mostra como puro. Falam em ‘desideologizar’ o Estado, como se as cadeiras azuis não fossem ideológicas. Elas são cadeiras altamente ideológicas. Escola sem partido não é ideológico? A questão é que, como dizia o cartunista Millor Fernandes, ‘ideologia é sempre a dos outros”, diz Romano.