Por Tom Barítono –
Oi, Paulo, tudo bem? Meu amigo, me lembrei de você ao ler que uma das quase mil escolas ocupadas no seu Paraná tem o seu nome, Paulo Leminski. E que essas escolas, Paulo, estão ocupadas porque há um golpe neste momento no Brasil. Um golpe que leva um nome grande, nada poético, golpe parlamentar-jurídico-midiático.
Leminski: – “Haja hoje para tanto ontem”.
Pois é, meu amigo, e dentro desse golpe está uma tal de reorganização do ensino médio, que pretende tirar das escolas as disciplinas de Filosofia, Sociologia, Artes e Educação Física. Sim, não estou de brincadeira, é sério. Ah, e tem um projeto maluco chamado Escola Sem Partido, que propõe a eliminação, das disciplinas escolares, de qualquer coisa que cheire à ideologia. Ideologia de esquerda, que fique claro.
E o pior, meu querido Paulo, é que os golpistas ainda estão nos enfiando goela abaixo uma tal de PEC 241, que corta os investimentos em Educação e Saúde, entre outras áreas sociais, por 20 anos.
Não é um absurdo o que estão fazendo com o povo? O que você tem a dizer sobre isso, meu amigo?
Nesta vida pode-se aprender três coisas de uma criança: Estar sempre alegre; nunca ficar inativo; e, chorar com força por tudo aquilo que se quer.
– “Abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri:
Antigamente eu era eterno”
Pois é, meu amigo, mas a garotada secundarista está ocupando as escolas em todo o Brasil, principalmente no seu Paraná para tentar fazer com que o ontem, a ditadura militar que você viveu, não volte hoje.
– “Isso de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além”
E saiba que os jornais, a televisão e as rádios, quando falam dessas ocupações, o fazem para demonizar a garotada, nunca para debater, para discutir os motivos que os levaram a ocupar as escolas.
– “A vida não imita a arte. Imita um programa ruim de televisão”.
“dia
dai-me
a sabedoria de Caetano
nunca ler jornais
a loucura de Glauber
tem sempre uma cabeça cortada a mais
a fúria de Décio
nunca fazer versinhos normais”
Mas aqui, Paulo, vai uma boa notícia: uma menina de 16 anos, Ana Júlia Ribeiro, da sua Curitiba, foi à Assembleia Legislativa e disse poucas e boas para os deputados sobre o motivo da ocupação das escolas. Ah, me esqueci de dizer, que, numa briga, morreu um garoto numa das escolas ocupadas. A Ana Júlia acusou os deputados de estarem com as mãos sujas de sangue.
– “Sentado, não tem sentido”.
– “Viver é super difícil. O mais fundo está sempre na superfície”.
É, e os deputados ali, fazendo cara de paisagem, como se não fosse com eles.
– “Num ouvido, escrito: ENTRADA, noutro ouvido, escrito: SAÍDA.”
– “Sei quando uma pessoa está por dentro ou está por fora. Quem está por fora não segura um olhar que demora...”
E tem gente que está do lado de fora, mesmo. Achando que essa garotada é vândala e que não deveria protestar e nem ocupar escolas em razão do desastre anunciado.
– “Vai me ver com outros olhos ou com os olhos dos outros?”
Para finalizar este nosso papo, o que você manda de recado para essa moçada que está botando pra ocupar?
– “O destino quis que a gente se achasse, na mesma estrofe e na mesma classe, no mesmo verso e na mesma frase”.
– “Nada tão comum
que não possa chamá-lo
meu
Nada tão meu
que não possa dizê-lo
nosso
Nada tão mole
que não possa dizê-lo
osso
Nada tão duro
que não possa dizer
posso”
E, finalizando mesmo, sem saideira:
– “Tenho a impressão
que já disse tudo.
E tudo foi tão de repente.”
Foto de Américo Vermelho