Por Celso Sabadin, Planeta Tela –
Se formos analisar simplesmente a sinopse do filme “Numa Escola de Havana”, num primeiro momento a impressão será de total deja vu: numa escola cheia de problemas, uma dedicada professora faz o possível e o impossível para tratar seus alunos – vitimados pelas mais diversas carências socioeconômicas – com a maior dignidade possível, apostando no potencial humano de cada um em detrimento a qualquer tipo de mecanismo repressivo. Obviamente logo nos vêm à cabeça uma série enorme de “professores heróis” que nos acostumamos a ver no cinema desde Sidney Poitier em “Ao Mestre com Carinho”. Esqueça! “Numa Escola de Havana” passa longe da mesmice e da pieguice.
Não é tanto pela história contada, mas sim pela maneira como ela explode na tela. O roteirista e diretor Ernesto Daranas constrói seus personagens com extremas credibilidade e afeto. Não cria heróis, nem vilões, foge completamente do maniqueísmo, ao mesmo tempo que traça um belíssimo painel sócio cultural de Havana, por extensão, de Cuba e – por que não – de toda a América Latina. Com uma sutileza narrativa que contrasta com a dureza e a crueldade do meio social de seus personagens, “Numa Escola em Havana” é um filme de olhares, de pequenos gestos, grandes diálogos e, sobretudo, de soberbas intepretações de todo o elenco. Talvez os mais radicais torçam o nariz para algumas críticas feitas ao regime de Fidel, mas política à parte é praticamente impossível negar as qualidades cinematográficas do filme.
Ao ver uma professora datilografar um texto numa antiga e barulhenta máquina de escrever, uma colega lhe diz: “Por que você não usa o computador?”. A resposta vem célere: “Porque eu quero que as palavras soem”.
Numa cena de tensão entre a jovem diretora e a velha professora, o diálogo é dos mais afiados:
– Eu leciono aqui antes mesmo de você ter nascido.
– Talvez seja tempo demais.
– É menos que o tempo dos que governam este país…
É com toda esta carga emocional que “Numa Escola de Havana” estreia no circuito brasileiro no próximo dia 3 de setembro. Não por acaso, o filme foi premiado nos festivais de Bogotá, Havana, Lleida, Málaga e Portland. Por enquanto.