Economista e professor da Unicamp afirma que medida do Banco Central atua ‘contra a razoabilidade das políticas econômicas’
Compartilhado da Redação Opera Mundi
A edição desta quarta-feira (18/09) do programa OUTUBRO abordou o aumento da taxa Selic anunciado horas antes pelo Banco Central (BC). A decisão foi tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) da entidade e elevou o índice em 25 pontos-base, fazendo-o saltar para 10,75% ao ano.
Em meio ao debate sobre essa resolução, se destacou uma declaração do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos debatedores do programa, que criticou o presidente do BC, Roberto Campos Neto e qualificou sua política de juros altos como uma circunstância da “guerra entre a Faria Lima e o resto do país”.
A declaração surgiu após o jornalista Haroldo Ceravolo Sereza, apresentador do programa, perguntar “por que o Brasil tem hoje a segunda maior taxa de juros real do mundo, perdendo apenas para a Rússia, que está em guerra contra a Ucrânia? Por que temos uma economia de guerra se não estamos em guerra?”
Segundo Belluzzo, “nós temos uma guerra peculiar aqui (no Brasil), entre a Faria Lima e o resto do país, contra a razoabilidade das políticas econômicas”.
O economista e ex-presidente do Palmeiras descreveu a insistência do Banco Central em uma política de juros altos citando o economista britânico John Maynard Keynes, que, segundo ele, “sintetizou muito bem o que se chamava de ‘estado de convenções’, como vão se constituindo essas convenções em um determinado momento. Em um determinado momento, essas convenções indicam que a economia vai bem, os empresários investem, etc. Em um estado de convenções negativo, a economia se retrai, etc (…) esses são conceitos elaborados pelos homens”.
O comentário do professor da Unicamp foi complementado por Bianca Valoski, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e outra das debatedoras do programa. Segundo ela, a política de juros do BC cria “um Robin Hood às avessas, pois você dá mais dinheiro a quem já tem muito dinheiro”.
Já o petroleiro Pedro Faria, economista pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que completou a bancada do programa, abordou a questão ressaltando que “é preciso superar essa ideia de que a gente só tem um tipo de inflação, e que ela deve ser combatida sempre com o mesmo tipo de ferramenta (…) se nós só usamos a taxa de juros para resolver, vamos tratar toda inflação como se fosse inflação de demanda”.