O Bem Blogado estréia nova seção, a Emes de Mulher, assinada por Maiara Muraro.
Apresentamos a Maiara Martins Muraro: militante e idealizadora por um mundo mais humano, livre, no qual haja equidade às mulheres.
Maiara está com 30 anos, é carioca, formada em Psicologia e mora em São Paulo. Atualmente trabalha como Produtora.
Recentemente, Maiara criou a página @entremulheresss no Instagram como ferramenta de motivação às mulheres, para caminharem juntas, diante de uma sociedade estruturalmente machista.
Ela é gestora Cultural do ICRM – Instituto Cultural Rose Marie Muraro – espaço dedicado ao acervo e obra de Rose Marie Muraro, sua avó, contemplando a mais diversa biblioteca de estudo de gênero da América Latina.
O nosso privilégio é fruto do (des)privilégio de alguém
Por Maiara Muraro
É difícil criticar um sistema quando você é parte dele. Sim, é difícil.
É difícil defender a bandeira do feminismo quando se é uma mulher branca e de classe média.
É difícil ser contra a homofobia quando você é heterossexual.
É difícil ser contra a desigualdade social quando você ganha mais do que metade da população brasileira – e não porque você ganha horrores, mas porque faz parte de uma elite.
É difícil falar de gordofobia quando você tem o estereótipo dentro do padrão.
Sim, é difícil falar de violência se você nunca viveu na favela.
É difícil falar de saúde publica quando você nunca pisou no SUS.
A gente pode até querer falar, mas na verdade jamais saberemos a dor de estar no outro lugar.
O nosso privilégio é fruto do (des)privilégio de alguém.
Não tem jeito o sistema não é ganha ganha. Aqui para alguém ganhar outro precisa perder.
Mas como sobreviver a isso sem incomodar sua essência de humanidade? Empatia!
Não temos como falar de uma dor que não é nossa. Podemos aprender a ouvir e a usar o privilégio da voz branca e burguesa para ser porta voz da dor alheia. Porque difícil mesmo é estar do lado mais fraco da corda.
E ah, eu não estou menosprezando a sua e nem a minha dor. Só estou te lembrando que existem causas mais importantes do que aquelas que discutimos aqui.
E desculpa o desabafo. É porque as vezes a gente fica de saco cheio de conviver com quem fecha os olhos para mundo que não quer ver.
(Texto de uma viagem de trem e uma reflexão sobre a vida do lado de fora do vagão)